Brasília – 20/08/2025, 17h40. A intensificação do conflito entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e o governo dos Estados Unidos fez surgir o temor de uma corrida bancária no Brasil, segundo especialistas do setor financeiro.
O estopim foi a decisão do ministro Flávio Dino, que proibiu a aplicação em território nacional de leis e decisões estrangeiras – apesar de um recuo parcial posterior. A medida, interpretada como reação às sanções previstas na Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, acirrou o clima de incerteza.
Risco para bancos com operações internacionais
Instituições brasileiras mantêm filiais, contratos e captação de recursos em dólar no exterior, além de utilizarem o sistema de pagamentos Swift. Caso não cumpram determinações americanas, podem sofrer multas bilionárias ou restrições de operação fora do país.
Analistas temem que, se houver ordem para encerrar contas vinculadas a Moraes e o STF impedir a execução, a suspeita de sanções a bancos brasileiros se espalhe. “A simples desconfiança de que um grande banco possa ser punido já é suficiente para gerar turbulência”, avaliam executivos ouvidos pelo mercado.
“Nenhum banco tem dinheiro físico para todo mundo”
Para a economista Carla Beni, professora da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), o dinheiro hoje é majoritariamente eletrônico: “Nenhum banco do Brasil ou do mundo possui numerário em volume para saques massivos”.
O professor Moises da Silva Marques, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP) e especialista em risco sistêmico, ressalta que a base do sistema financeiro é a confiança. “Uma corrida costuma nascer do pânico, não de insolvência real”, afirma. Ele lembra que o Fundo Garantidor de Crédito, existente há três décadas, assegura parte dos depósitos e reduz o risco de perda total.
Atuação preventiva do Banco Central
Segundo Marques, o Banco Central monitora em tempo real a liquidez das instituições e pode agir antes de o problema escalar. Medidas de emergência incluem injeção de recursos, garantias extras, intervenção em bancos vulneráveis ou restrição temporária de saques.

Imagem: Fabio Rodrigues Pozzebom
O especialista cita o conceito too big to fail, pelo qual o regulador socorre instituições consideradas grandes demais para quebrar. Ele lembra casos de 1999, quando o BC precisou sustentar o Banco Marca e o Fonte Sindan para evitar efeito dominó após variação cambial.
Episódios históricos de pânico bancário
A matéria recorda eventos como:
- Grande Depressão nos Estados Unidos (1929-1933), que levou à criação da FDIC;
- Crise argentina (2001-2002) e o corralito;
- Dívida grega (2010-2015), com controle de capitais e limites de saque;
- Chipre (2012-2013), quando depósitos acima de € 100 mil foram parcialmente confiscados;
- Índia (1991-1992), onde boatos sobre falências provocaram fuga de depósitos.
Marques destaca que, após esses episódios, regulações como o acordo Basileia III reforçaram as “redes de proteção” globais. Ainda assim, o cenário de conflito entre STF e EUA mantém o setor financeiro em alerta.
Com informações de Gazeta do Povo