O início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, agendado para 2 de setembro pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e a operação da Polícia Federal contra o pastor Silas Malafaia intensificaram a mobilização de grupos oposicionistas para as manifestações do feriado da Independência. A principal concentração está marcada para a Avenida Paulista, em São Paulo, a partir das 15h de 7 de setembro, mas atos estão sendo articulados em outras capitais.
Operação no Galeão e medidas cautelares
Na quarta-feira, 20 de agosto, Malafaia desembarcava no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, vindo de Lisboa, quando agentes federais executaram mandado de busca e apreensão expedido pelo ministro Alexandre de Moraes. Os policiais recolheram aparelhos eletrônicos e tomaram depoimento no próprio terminal.
Horas depois, Moraes determinou o cancelamento dos passaportes do pastor – brasileiros e estrangeiros – e proibiu contato com outros investigados, entre eles o deputado Eduardo Bolsonaro, que se encontra nos Estados Unidos.
Reações no Congresso e entre evangélicos
O líder da oposição na Câmara, deputado Luciano Zucco (PL-RS), classificou o 7 de Setembro como “decisivo para milhões de brasileiros” e criticou recentes decisões de Moraes, que, segundo ele, “ameaçam a segurança jurídica do país”.
No Senado, Magno Malta (PL-ES) afirmou que a inclusão de Malafaia em inquérito sobre tentativa de golpe “reforça a percepção de arbitrariedade do Supremo” e atinge diretamente as igrejas evangélicas. Em nota, o Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil (CIMEB) considerou a medida uma “perseguição que ultrapassa o âmbito político e atinge a esfera religiosa”.
Especialistas veem impacto nas ruas
Para o cientista político Adriano Cerqueira, do Ibmec-BH, a operação contra o pastor deve “impulsionar” a adesão aos protestos de 7 de Setembro, pois Malafaia é “um dos principais aliados de Bolsonaro”. Já o professor Elton Gomes, da Universidade Federal do Piauí, lembra que a manifestação de 3 de agosto mostrou a capacidade de mobilização da direita mesmo sem a presença física do ex-presidente, pressionando o Congresso.
Roteiro do julgamento de Bolsonaro
A Primeira Turma do STF inicia a análise às 9h de 2 de setembro, sob presidência do ministro Cristiano Zanin. O relator, Alexandre de Moraes, apresentará relatório sobre as etapas já concluídas do processo. Em seguida, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, terá até uma hora para a sustentação da acusação, com igual tempo destinado às defesas dos réus.
Os votos serão proferidos na ordem: Moraes, Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e, por último, Zanin. A maioria simples (três dos cinco ministros) decide. Um pedido de vista pode suspender o julgamento por até 90 dias. Eventual condenação só terá execução após análise de recursos, e réus militares têm regime prisional diferenciado.

Imagem: André Borges
Calendário dos protestos
Além da Avenida Paulista, atos estão previstos em Belo Horizonte (Praça da Liberdade, 10h), Brasília, Recife, Salvador e outras capitais, com horários e locais ainda em definição. Entre as pautas, destacam-se liberdade de expressão, liberdade religiosa, anistia aos presos do 8 de janeiro e impeachment de Moraes.
Nas redes sociais, o senador Rogério Marinho (PL-RN) publicou: “No 7 de setembro, o povo vai às ruas gritar o que a toga quer calar: Supremo é o povo!”, relacionando o recente indiciamento de Jair Bolsonaro à mobilização.
Antecedente de 3 de agosto
A última grande manifestação contra Moraes ocorreu em 3 de agosto, reunindo milhares de pessoas em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. O ato foi organizado pelo movimento Reaja Brasil e contou com participação remota de Bolsonaro e de aliados. No encerramento, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) convocou a população para o “grito à liberdade” no Dia da Independência.
A expectativa agora é de que a proximidade entre o julgamento do ex-presidente, as medidas contra Malafaia e o calendário de rua amplifique a presença de manifestantes, elevando a tensão entre oposição, STF e governo federal.
Com informações de Gazeta do Povo