Brasília — 14/08/2025 — A decisão do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), de não pautar o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), apesar do apoio formal de 41 senadores, reaqueceu a mobilização de partidos de direita para as eleições de 2026. O objetivo é conquistar maioria na Casa e eleger, em 2027, um presidente alinhado à abertura de processos contra ministros do STF.
Impeachment como bandeira eleitoral
O pedido de impeachment, que integra o chamado “Pacote da Paz” — composto ainda por anistia aos réus do 8 de janeiro e fim do foro privilegiado — acusa Moraes de usurpar competências de outros Poderes e de abuso de autoridade. A iniciativa ganhou novo fôlego após os Estados Unidos aplicarem sanções individuais ao ministro com base na Lei Magnitsky Global, alegando detenções arbitrárias e supressão da liberdade de expressão.
A frustração de oposicionistas com a recusa de Alcolumbre levou dirigentes do Partido Liberal (PL) e de legendas aliadas a priorizarem a disputa pelas 54 cadeiras do Senado em 2026 — duas por unidade da federação. Dirigentes ouvidos avaliam que só uma configuração conservadora no plenário permitirá retomar o processo contra Moraes na próxima legislatura.
Controle do PL sobre candidaturas
Para ampliar a bancada, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, assumiu o controle direto das negociações estaduais. Uma resolução aprovada pela sigla proíbe filiados de apoiar candidatos de outros partidos, sob pena de corte de recursos do fundo eleitoral ou expulsão. A direção nacional também está autorizada a intervir em diretórios que descumprirem a orientação.
A medida fortalece a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro na montagem de chapas. Após as eleições municipais de 2024, Bolsonaro passou a tratar pessoalmente da articulação nos estados. Nomes competitivos são buscados principalmente no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, regiões onde o ex-mandatário venceu no segundo turno de 2022 com 69,7%, 58% e 60,5% dos votos, respectivamente.
O movimento inclui filiações estratégicas, como a do senador Márcio Bittar (AC), que deixou o União Brasil para se juntar ao PL e reforçar a oposição ao PT no Acre.
Disputa interna em São Paulo
Entre as prioridades do partido está a candidatura do deputado Eduardo Bolsonaro ao Senado por São Paulo. Valdemar Costa Neto afirma não trabalhar com um “plano B”, mas o próprio deputado menciona alternativas como o secretário paulista de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PP), o deputado estadual Gil Diniz (PL) e o deputado federal Marco Feliciano (PL).

Imagem: Valter Campanato via gazetadopovo.com.br
CPI e novas pressões sobre o STF
Além do impeachment, senadores articulam instrumentos adicionais contra Moraes. Esperidião Amin (PP-SC) protocolou pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a chamada “Vaza Toga 2”, série de mensagens que indicariam montagem de estrutura paralela no Tribunal Superior Eleitoral para monitorar influenciadores, políticos e jornalistas.
Analistas como Ismael Almeida veem o movimento atual como ensaio para a campanha de 2026. Elton Gomes, da Universidade Federal do Piauí, destaca que, apesar da fragilidade perceptível do STF, parlamentares experientes ainda consideram improvável a aprovação do impeachment na conjuntura atual. Já Antônio Flávio Testa avalia que o processo só avançará se a Lei Magnitsky atingir outros ministros ou se o setor financeiro aumentar a pressão.
Possíveis novos alvos de sanções
Além de Moraes, outros sete ministros — Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Cristiano Zanin e Flávio Dino — e o procurador-geral Paulo Gonet são citados em bastidores como possíveis alvos de futuras sanções. Caso novos nomes sejam incluídos na lista dos EUA, bancos e empresas brasileiras podem enfrentar dificuldades para manter operações internacionais, devido ao risco de punições secundárias.
Com o pedido de impeachment parado, a perspectiva de Moraes assumir a presidência do STF em 2028 reforça o discurso de “impunidade” utilizado por opositores. Essa narrativa deve orientar a campanha ao Senado em 2026, vista por lideranças de direita como caminho para romper o atual bloqueio institucional.
Com informações de Gazeta do Povo