A Fermi America apresentou em junho de 2025 o HyperGrid, complexo energético que pretende entregar 11 GW de capacidade a partir de fontes nuclear, gás natural, solar, baterias em escala de rede e conexão convencional ao sistema. O campus ficará em Amarillo, no noroeste do Texas, e foi concebido para abastecer o rápido crescimento de data centers voltados a aplicações de inteligência artificial.
O empreendimento conta com o ex-governador do Texas e ex-secretário de Energia dos Estados Unidos, Rick Perry, como cofundador. Durante o lançamento, Perry citou a competição tecnológica entre Estados Unidos e China como principal motivação do projeto.
Contexto da rede texana
O Texas opera sua própria malha elétrica por meio do Conselho de Confiabilidade Elétrica do Texas (ERCOT) e, para evitar supervisão federal, mantém-se isolado do restante do país. Estudos apontam um déficit potencial de 8,3% na oferta de energia até 2027, em meio a demanda crescente e limitações de proteção contra condições climáticas severas — como as tempestades de maio que provocaram cortes amplos.
Embora a Assembleia Legislativa do estado e o ERCOT tenham ampliado inspeções e planejamento, especialistas avaliam que a modernização da infraestrutura é lenta e cara. Nesse cenário, o HyperGrid surgiu como aposta para aumentar a oferta com rapidez.
Modelo de “mini-rede” privada
O consórcio quer criar um polo praticamente autônomo de geração e consumo, unindo múltiplas fontes no mesmo local. A proposta agrada a empresas que precisam de energia abundante e constante, pois reduz responsabilidades corporativas e adiciona capacidade em curto prazo. Também facilitaria a adoção de geração distribuída, como painéis solares residenciais.
Em resposta a uma consulta da Forbes, a Fermi America afirmou que “cada novo centro de IA demanda 500 MW ou mais, equivalente a ligar uma pequena cidade de uma hora para outra”, e defendeu a construção de uma rede privada para não retirar energia das comunidades locais.
Benefícios e obstáculos
Embora o modelo permita experimentação e fornecimento rápido, analistas alertam para problemas de compatibilidade, capacidade desigual e dessincronização — dificuldades que o ERCOT já enfrenta. Além disso, soluções localizadas podem reduzir o ímpeto por ampliações estruturais em todo o sistema.
O Laboratório Nacional de Energias Renováveis (NREL) projeta que a transmissão norte-americana precisará ao menos dobrar até 2050. Entretanto, um levantamento da Americans for a Clean Energy Grid mostra desaceleração na construção de novas linhas na última década, mesmo com aumento de verbas. Grande parte dos recursos financia apenas manutenção de ativos antigos.

Imagem: forbes.com
No Texas, o ERCOT propôs a modernização de parte significativa das linhas de transmissão, considerada essencial para integrar projetos como o HyperGrid. O operador, após anos de reformas, figura hoje entre os mais bem avaliados do país.
Cenário nacional e disputa global
Filas de interconexão também representam entrave: o Laboratório Nacional Lawrence Berkeley identificou, no ano passado, 269,2 GW de capacidade de geração e armazenamento aguardando análise para se ligar ao sistema texano.
No plano federal, o Departamento de Energia publicou em janeiro de 2025 o Distributed Energy Resource Interconnection Roadmap com diretrizes para integrar redes menores e atualizar equipamentos. A Casa Branca emitiu ordens executivas para acelerar o desenvolvimento de IA, agilizar conexões e disponibilizar terras federais a novos data centers.
Ao mesmo tempo, a China adotou em 2025 uma lei nacional de energia voltada à expansão de suas usinas nucleares e ao suprimento de setores de alta tecnologia, reforçando a necessidade, segundo Washington, de modernizar a própria infraestrutura elétrica.
Enquanto a demanda por eletricidade aumenta nos Estados Unidos, o HyperGrid se apresenta como alternativa privada para suprir data centers texanos, mas especialistas observam que ampliações em grande escala nas redes de transmissão continuam indispensáveis para atender aos requisitos futuros.
Com informações de Forbes