NOVA YORK – Em sua primeira semana como proprietário e CEO da recém-criada Paramount Skydance, David Ellison fechou um contrato de US$ 7,7 bilhões para transmitir o UFC pelos próximos sete anos, desembolsando em média US$ 1,1 bilhão por temporada.
A operação, anunciada poucos dias depois de um acordo de US$ 1,5 bilhão pelos direitos de South Park, eleva para quase US$ 9 bilhões o valor empenhado pelo executivo de 42 anos desde que assumiu o comando do grupo.
Pressão sobre as contas
O investimento chega num momento delicado: em 2024, a antiga Paramount Global registrou prejuízo operacional de US$ 5,27 bilhões. Analistas, como Robert Fishman, da MoffettNathanson, veem dificuldade para recuperar o aporte “de forma isolada”, mas reconhecem que o negócio sinaliza disposição para reinvestir e ganhar escala.
Mudança de estratégia
Sob a gestão anterior, da National Amusements de Shari Redstone, a companhia vendeu ativos para reforçar o caixa: a sede da CBS em Nova York (US$ 760 milhões) e o CBS Studio Center em Los Angeles (US$ 1,85 bilhão) em 2021, além da editora Simon & Schuster (US$ 1,62 bilhão) em 2023. Também cogitou alienar o canal BET e a plataforma Showtime, negócios que não avançaram.
Ellison sinalizou a reversão desse rumo. Disse ao Wall Street Journal que não pretende mais negociar o BET e resumiu a filosofia em uma frase: “Não dá para crescer cortando”. Ainda assim, prometeu reduzir custos em US$ 2 bilhões e prepara demissões significativas até o fim do ano.
Como pagar a conta
Para o consultor Patrick Crakes, ex-executivo da Fox Sports, a verba para o início do contrato virá principalmente da CBS. “Talvez não gere lucro direto, mas torna a Paramount mais relevante e indispensável”, afirmou.
Crakes compara a aposta ao movimento da Fox em 1993, quando tirou o pacote da Conferência Nacional (NFC) da NFL da CBS pagando US$ 400 milhões anuais — valor considerado alto à época. Segundo ele, mesmo sem lucro contábil frequente, o futebol americano impulsionou a construção da rede de afiliadas e o posicionamento da emissora.
Assinantes e pacotes de streaming
No relatório da MoffettNathanson, Fishman projeta até seis milhões de novos assinantes para o Paramount+ com a chegada do UFC, número similar ao ganho do ESPN+ nos dois primeiros anos de parceria com a liga. O potencial pode ser maior, avalia o analista, por causa do fim do modelo pay-per-view em grandes eventos.
A expectativa do mercado é que os serviços de streaming acabem agrupados em menos ofertas. Nesta semana, ESPN e Fox anunciaram um novo pacote conjunto online. Ao reforçar seu catálogo, a Paramount busca garantir presença obrigatória nesses futuros “combos” e aumentar a fatia de receita, a exemplo das tarifas de carregamento na TV por assinatura de duas décadas atrás.

Imagem: Matt Craig via forbes.com
Mercado de direitos esportivos aquecido
Mark Shapiro, presidente e COO da TKO Holdings, controladora do UFC, afirma ouvir previsões de queda nos valores de direitos desde 2005, mas continua encontrando concorrência intensa entre canais e plataformas. “O colapso não existe. Todos precisam de conteúdo premium, e o esporte é o último bastião de audiência unificada”, disse.
Olhar para aquisições
Com UFC o ano todo, esportes sazonais na CBS (NFL, The Masters, March Madness) e marcas de entretenimento como o universo Star Trek e as produções de Taylor Sheridan (Yellowstone), a Paramount passa a ser vista como candidata a fusões ou compras. Integrantes do novo conselho, vindos de fundos como Redbird Capital e Silver Lake, reforçam essa percepção.
Para Chris Bevilacqua, veterano de 30 anos na TV esportiva e cofundador da Bevilacqua Helfant Ventures, a empresa está “se reposicionando de um conglomerado tradicional para uma marca de conteúdo personalizada e com viés tecnológico”.
O CEO do UFC, Dana White, celebrou a parceria de sete anos: “Os Ellison sabem exatamente o que fazem. Há um plano completo por trás, e estou animado por trabalhar com eles”.
Fim.
Com informações de Forbes