O modelo híbrido, que alterna dias de trabalho presencial e remoto, tornou-se a principal tendência entre empresas brasileiras ao buscar equilíbrio entre produtividade, cultura organizacional e qualidade de vida dos colaboradores.
Flexibilidade como diferencial competitivo
Para Henrique Holzhausen, diretor de Cultura e Processos da farmacêutica Libbs, e Christiane Berlinck, diretora de RH (CHRO) do Grupo OLX, a flexibilidade é decisiva na atração e retenção de profissionais. Berlinck afirma que muitos candidatos preferem ter liberdade de agenda a receber salários maiores. Dados internos da OLX registram redução de absenteísmo, melhora na sinistralidade do plano de saúde e maior retenção desde a adoção do híbrido.
Na unidade carioca da OLX, a gerente de RH Quelma Oliveira relata que todos os integrantes do seu time permanecem na companhia pela possibilidade de conciliar o trabalho com a rotina pessoal.
Números que sustentam a tendência
Pesquisa da Koru, empresa de capacitação corporativa, indica que 60% das companhias planejam manter ou ampliar o híbrido até 2025. No mesmo levantamento, 70% pretendem desenvolver competências de liderança remota e gestão de equipes distribuídas, e 65% miram capacitação para liderança adaptativa.
“Organizações híbridas vencem a disputa por talentos”, resume Daniel Spolaor, CEO da Koru.
Custos vistos como investimento
Economia de espaço físico não é o principal motivador para o formato misto. Holzhausen explica que, na Libbs, a redução de escritórios foi compensada por investimentos em tecnologia e benefícios para apoiar o trabalho a distância.
Na OLX, o modelo gerou despesas extras com viagens corporativas e reformas, mas evitou a ociosidade típica do regime totalmente presencial. Já a Cross Networking, que chegou a operar 100% em home office, viu os gastos subirem com infraestrutura e benefícios, como auxílio-estacionamento.
Valor do contato presencial
Tatiana Oliva, CEO da Cross Networking, defende que o escritório favorece treinamentos, reuniões rápidas e interação espontânea. Spolaor acrescenta que a convivência presencial estimula habilidades socioemocionais e fortalece vínculos.
A Cross Networking adotou esquema em que a equipe comparece dois dias inteiros por semana e pode chegar após o almoço nos demais. O escritório foi instalado próximo à estação Faria Lima do metrô para facilitar o acesso.
Imagem: Internet
Impacto do deslocamento
O trânsito nas grandes cidades é citado como obstáculo ao presencial diário. Quelma Oliveira lembra que gastava cerca de cinco horas por dia no percurso casa-trabalho; com o híbrido, ganhou tempo para a saúde e a família.
O Grupo OLX reformulou seus escritórios em 2024 para encontros intencionais. A recomendação é de duas idas semanais, sem obrigatoriedade. No Rio, o retrofit foi concluído em 78 dias; em São Paulo, a mudança para a Avenida Paulista reduziu em até 44 minutos (ida e volta) o deslocamento médio de 626 colaboradores.
Anywhere office na Libbs
Desde março de 2020, áreas administrativas da Libbs funcionam em regime “anywhere office”. A farmacêutica abriu mão da antiga sede na Barra Funda (SP) e oferece acesso a coworkings parceiros. Hoje, 35,2% dos 3,9 mil empregados atuam nesse formato. Pesquisa interna de outubro de 2024 mostrou que 99% dos funcionários e 97% dos gestores consideram o modelo positivo para a produtividade.
Para organizar o trabalho remoto, a companhia criou a “elegância corporativa”, conjunto de regras que proíbe mensagens fora do expediente e exige memorando prévio antes de reuniões, tornando os encontros mais objetivos.
Desafios do remoto
Especialistas alertam para riscos de isolamento, dificuldades de comunicação e queda de foco em home office integral. Estudos apontam piora na saúde mental de quem trabalha majoritariamente a distância, o que tem levado empresas a buscar o ponto de equilíbrio no híbrido.
No encerramento de evento recente, João Adibe, presidente da Cimed, lembrou que mudanças culturais e tecnológicas exigem adaptação constante: “Os hábitos de 20 anos atrás não são os da nova geração”.
Com informações de InfoMoney
