São Francisco, EUA – Ferramentas de inteligência artificial estão sendo empregadas para criar vídeos, áudios e perfis falsos de médicos renomados a fim de promover produtos de saúde sem comprovação científica, segundo relatos de profissionais, autoridades e pesquisadores.
Imitações de especialistas enganam pacientes
O endocrinologista Robert H. Lustig, professor emérito da Universidade da Califórnia em São Francisco e autor de best-sellers sobre obesidade, descobriu recentemente que sua imagem foi copiada em vídeos no Facebook que prometiam “pérolas líquidas” para emagrecimento “sem injeções nem cirurgia”. O material, gerado por IA, reproduziu aparência e voz do médico sem consentimento.
Situação semelhante ocorreu com a médica de família britânica Gemma Newman. Em abril, ela alertou no Instagram sobre um vídeo do TikTok no qual aparecia, de forma fictícia, recomendando cápsulas de vitamina B12 e doses de 9 mil mg de beterraba. A própria mãe da médica acreditou que o vídeo fosse real.
Fraude se espalha por diversas plataformas
O cardiologista Eric Topol, fundador do Scripps Research Translational Institute, identificou dezenas de versões falsas de seu livro recém-lançado na Amazon, alguns com retrato gerado por IA. Já o cientista da nutrição Christopher Gardner, de Stanford, tornou-se rosto involuntário de pelo menos seis canais no YouTube que publicam conselhos de saúde direcionados a idosos, utilizando voz sintética semelhante à dele.
Mesmo após denúncias, muitos conteúdos permanecem no ar. Gardner e representantes de Stanford passaram horas reportando vídeos ao YouTube e a órgãos federais; segundo eles, vários comentários explicando a fraude eram apagados em menos de um minuto. A plataforma afirmou ter removido canais por violação de políticas de spam.
Ferramentas acessíveis ampliam alcance de falsificações
“Hoje existem centenas de aplicativos capazes de recriar imagem e voz de alguém com poucos vídeos ou fotos”, declarou Vijay Balasubramaniyan, CEO da empresa de segurança Pindrop. Segundo ele, golpistas conseguem criar “impostores convincentes” a partir de perfis públicos, como os do LinkedIn.
Suplemento Peaka ganha projeção com uso indevido de médicos
A israelense BrandShield identificou campanha que utiliza logotipos de agências regulatórias de vários países e fotos de endocrinologistas conhecidos para vender o produto Peaka, anunciado como variante oral de medicamentos GLP-1 – atualmente aprovados apenas em forma injetável.
Os sites que comercializam o Peaka são registrados em Hong Kong e operam em diferentes idiomas. O suplemento chegou a ser vendido em marketplaces como Amazon e Walmart. Após contato da imprensa, a Amazon iniciou remoção dos anúncios; o Walmart declarou ter excluído vendedores terceirizados que violavam regras.

Imagem: Internet
A campanha afetou a especialista em obesidade Caroline Apovian, professora da Harvard Medical School, que localizou 20 perfis falsos em seu nome no Facebook e LinkedIn. Pacientes passaram a questioná-la sobre a “aprovação” do produto.
Tentativas de derrubar perfis falsos nem sempre funcionam
A oncologista Tiffany Troso-Sandoval, que administra páginas educativas sobre câncer feminino, contratou por US$ 260 um prestador de serviços no Fiverr para retirar uma página falsa do Facebook que usava sua imagem – sem sucesso. A Meta afirma proibir imitações e declarou ter removido contas relacionadas após ser notificada pela imprensa.
Risco para consumidores vulneráveis
Michael Horowitz, pesquisador de gastroenterologia da Universidade de Adelaide, alerta que a fraude se aproveita de pessoas com dificuldade de acesso a medicamentos aprovados para diabetes ou obesidade. “Eles identificam os vulneráveis, sabendo que o que oferecem não serve para nada”, afirmou.
Reguladores como a FDA, nos Estados Unidos, emitem avisos sobre produtos de saúde falsificados, mas médicos e especialistas dizem que as medidas não têm sido suficientes para conter o avanço das fraudes impulsionadas por IA.
Enquanto isso, profissionais tentam proteger reputação e pacientes, denunciando perfis falsos e reforçando orientações para que o público verifique fontes oficiais antes de adquirir suplementos ou tratamentos anunciados online.
Com informações de InfoMoney