Enquanto os Estados Unidos fecharam um em cada seis shoppings desde 2013, a China dobrou a quantidade de centros comerciais no mesmo período, alcançando aproximadamente 6.700 unidades. O resultado é um mercado dividido entre empreendimentos lotados e outros praticamente vazios.
Primeiro fechamento da Apple na China
Neste mês, a Apple encerrou as atividades de sua loja no shopping InTime City, em Dalian, cidade portuária no nordeste chinês. É a primeira vez que a companhia norte-americana fecha um ponto de venda no país, onde ainda mantém dezenas de unidades. Os funcionários foram realocados para a segunda loja da marca em Dalian, instalada no shopping Olympia 66, a apenas 2,5 km de distância.
Construção impulsionada por dívida e tributos locais
O excesso de shoppings reflete anos de obras financiadas por endividamento, mesmo após a desaceleração nas vendas do varejo iniciada durante a pandemia de Covid-19. Governos locais têm forte influência sobre o que é erguido em suas jurisdições e preferem centros comerciais porque arrecadam impostos sobre vendas; edifícios residenciais praticamente não pagam tributo anual semelhante.
Apenas em 2023 foram inaugurados 430 novos shoppings na China. Em comparação, os Estados Unidos — que têm um quarto da população chinesa — contam hoje com 1.107 centros, segundo a consultoria imobiliária comercial CoStar.
Concorrência do comércio eletrônico
Além da expansão acelerada, os shoppings enfrentam forte concorrência do comércio eletrônico, favorecido por entregas baratas e rápidas. Estima-se que 10 milhões de pessoas atuem como entregadores no país, circulando em scooters elétricas, caminhões autônomos e até drones.
Vencedores e perdedores em Dalian
Um tour por sete shoppings de Dalian expõe a distância entre negócios bem-sucedidos e empreendimentos esvaziados. No InTime City, a antiga entrada da loja da Apple — inaugurada em 2015 — foi coberta por painéis brancos. Vitrines de marcas como Boss também permanecem fechadas, exibindo placas de “Em Breve”. O shopping, que teria enfrentado crise financeira em 2022, está envolvido em litígios e não comentou o assunto.
Já o Olympia 66 continua atraindo consumidores. O empresário Jerry Mao, dono da grife de luxo Shanghai Tang, estuda abrir uma unidade em Dalian, mas afirma que não considera o InTime City por “falta de energia e clientes”.

Imagem: Internet
Impacto do mercado imobiliário e do consumo
A queda no preço dos apartamentos após ações de Pequim para esfriar uma bolha imobiliária diminuiu a poupança da classe média, reduzindo o apetite por compras. Pesquisa da Associação Chinesa de Comércio de Produtos Gerais aponta que dois terços das lojas de departamento registraram queda de vendas e lucros em 2023, atribuída à menor circulação de pessoas e à perda de poder de compra.
Apesar disso, Dalian supera outras cidades: as vendas no varejo local cresceram 7,4% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2023, impulsionadas por indústrias estratégicas de equipamentos e construção naval, além do turismo.
Especialistas como Ron Johnson, responsável por criar a área de varejo da Apple e que deixou a empresa em 2011, já advertiam sobre o ritmo de construção na China. “Sabíamos que nem todos os shoppings sobreviveriam”, disse ele.
Com informações de InfoMoney