Sacramento (EUA) – Sob a ameaça de perder US$ 4 bilhões em subsídios federais, o novo diretor-executivo da California High-Speed Rail Authority (CHSRA), Ian Choudri, apresentou esta semana um plano para garantir a continuidade do trem-bala que ligará São Francisco a Los Angeles.
Receitas além da tarifa
Choudri, que assumiu o cargo em setembro passado após passagens por Bechtel, Alstom e Parsons, aposta em parcerias privadas e em novas fontes de receita. Entre elas, a instalação de centros de dados de inteligência artificial em terrenos do projeto, alimentados por usinas solares que também suprirão os trens. Segundo o executivo, esses rendimentos “ancilares” podem representar de 30% a 40% do que se arrecadará com a venda de passagens.
Outras iniciativas incluem a cessão do corredor ferroviário para operadoras de fibra óptica e projetos imobiliários no Vale Central, região com preços de imóveis mais baixos que as áreas costeiras.
Calendário revisto
O novo cronograma prevê a conclusão de um trecho inicial de 119 milhas (Fresno–Bakersfield) até 2033. A expansão até São Francisco, San José e Palmdale, no sul do estado, é planejada para 2039, com extensão posterior a Los Angeles. Quando finalizado, o sistema deverá somar 494 milhas, ligando São Francisco, Los Angeles e Anaheim.
Busca por financiamento estável
Para sustentar o empreendimento, o governador Gavin Newsom propôs em maio um pacote de US$ 20 bilhões — US$ 1 bilhão por ano até 2045 — proveniente do programa estadual de Cap-and-Trade, além de um projeto de lei que acelera licenças e realocação de estradas e utilidades públicas. O Senado da Califórnia tem até 12 de setembro para votar essas medidas.
A garantia de verba de longo prazo já despertou interesse de investidores como Bechtel, Meridiam e Plenary. “A perspectiva de um fluxo de recursos por 20 anos é o maior incentivo para o setor privado”, afirmou Sia Kusha, da Plenary.
Custos e críticas
A estimativa de custo subiu de US$ 45 bilhões, em 2008, para até US$ 128 bilhões no plano de negócios de 2024. O ex-presidente Donald Trump classificou o projeto como “fora de controle” e tenta recuperar parte dos repasses federais. Sem esses recursos, o trem-bala perderia 14% dos US$ 28 bilhões já captados.

Imagem: Alan Ohnsman via forbes.com
Mesmo assim, a obra avança: 2.300 propriedades foram adquiridas, a maior parte das licenças ambientais está aprovada e mais de 15 mil trabalhadores atuam no Vale Central. A autoridade ferroviária começou a comprar trilhos e outros insumos para a fase de implantação da via.
Impacto regional
No Vale Central, líderes locais defendem o projeto. O prefeito de Fresno, Jerry Dyer, espera que o trem mude a economia da região, onde o preço médio das casas é um terço do registrado em São Francisco ou Los Angeles. A viagem entre Fresno e San José poderá durar 45 minutos, segundo projeções da CHSRA.
Críticos argumentam que uma rota ao longo da Interstate 5 seria mais barata, mas os planejadores descartaram a ideia por excluir cidades do interior.
Com a decisão sobre o financiamento estadual e a disputa judicial pelos fundos federais, o futuro do trem-bala californiano depende agora do sucesso da estratégia que combina capitais público e privado, novas fontes de receita e um cronograma faseado de construção.
Com informações de Forbes