Moradores do estado de Bolívar denunciaram que forças do governo da Venezuela estão obrigando jovens a ingressar na Milícia Nacional Bolivariana após o fracasso de uma campanha de alistamento voluntário realizada no fim de semana. Segundo relatos publicados pelo portal argentino Infobae, militares chegaram de madrugada a Tumeremo, na quinta-feira (28), e levaram trabalhadores das minas de ouro diretamente para centros de recrutamento.
A operação ocorreu dias depois de praças e postos de inscrição permanecerem vazios no sábado (23) e domingo (24), apesar da propaganda oficial exibida pela televisão estatal. Imagens divulgadas por fontes independentes mostraram ausência quase total de voluntários.
Região rica em minerais e marcada pela pobreza
Bolívar abriga importantes jazidas de ouro, ferro e bauxita, mas enfrenta altos índices de pobreza e carência de serviços básicos. Em Ciudad Guayana, escolas chegaram a ministrar aulas ao ar livre por falta de infraestrutura, água, eletricidade e merenda, informou o jornal El País.
Pressão sobre servidores públicos
Além da busca forçada em áreas de mineração, o governo pressionou funcionários de estatais a comparecer aos postos de alistamento. A CNN en español registrou que trabalhadores tiveram de tirar fotos diante das mesas de registro e enviá-las aos superiores para comprovar presença.
O veículo colombiano La Prensa Informativa divulgou documento assinado pelo ministro da Energia, Jorge Eliéser Márquez, e pelo presidente da estatal de eletricidade Corpoelec, José Luis Betancourt, convocando empregados — que recebem entre US$ 1 e US$ 5 mensais — a se apresentarem uniformizados, com identidade em mãos, e assinarem lista de presença.
Reação da oposição
Para líderes oposicionistas, a baixa adesão demonstra perda de capacidade de mobilização do chavismo. “As praças vazias de toda a Venezuela anunciam o futuro que se aproxima”, declarou María Corina Machado.

Imagem: Miguel Gutiérrez
Constituição veda recrutamento forçado
O artigo 134 da Constituição venezuelana determina que “ninguém pode ser submetido a recrutamento forçado”. Mesmo assim, denúncias indicam que a prática foi adotada para inflar o efetivo da milícia. “A quem recorrer se quem leva nossos familiares é a própria autoridade?”, questionou uma moradora de Bolívar ao Infobae.
Nova convocação nacional
Na quarta-feira (27), o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, anunciou outra rodada de alistamentos para sexta-feira (29) e sábado (30) em mais de mil pontos do país. Ele afirmou que todas as empresas, públicas e privadas, deverão criar “corpos combatentes”, o que, na prática, obriga servidores de base a integrar a milícia.
O reforço das fileiras ocorre em meio à tensão com os Estados Unidos, que mantêm operações militares no Caribe, e à falta de apoio popular ao governo de Nicolás Maduro.
Com informações de Gazeta do Povo