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Projeto de usina binacional com a Bolívia levanta dúvidas sobre custos e benefícios

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O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estuda erguer uma nova hidrelétrica binacional na fronteira com a Bolívia, utilizando o potencial do Rio Madeira. A iniciativa, apresentada pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, pretende repetir o modelo de Itaipu, mas já encontra resistência de especialistas, que enxergam riscos de gastos elevados, falta de transparência e retorno econômico limitado para o Brasil.

Obra enfrenta questionamentos técnicos e políticos

De acordo com o engenheiro e economista Erik Duarte Rego, o projeto tem forte motivação política e poucas vantagens práticas para o lado brasileiro. Ele argumenta que, sem subsídios públicos, uma hidrelétrica desse porte não se viabilizaria diante de fontes alternativas mais baratas, como eólica, solar e biomassa.

Outro obstáculo apontado é a localização na Amazônia, onde a logística encarece a construção. As dificuldades de transporte, o acesso restrito e o clima com longos períodos de chuva exigiriam investimentos adicionais. Além disso, as linhas de transmissão — essenciais para levar a energia ao Centro-Sul — podem custar quase tanto quanto a própria usina, como ocorreu com os empreendimentos de Santo Antônio e Jirau, também no Rio Madeira.

Modelo “fio d’água” limita armazenamento

Pressões ambientais fazem com que novas hidrelétricas adotem o sistema “fio d’água”, que dispensa grandes reservatórios. Embora reduza impactos, esse formato deixa a geração sujeita ao regime de chuvas, podendo cair drasticamente na estiagem e encarecer o megawatt-hora entregue ao consumidor.

Precedente do Gasbol gera cautela

A experiência do Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol) reforça o receio de insegurança jurídica. Em 2006, o então presidente Evo Morales nacionalizou o setor de petróleo e gás boliviano, afetando ativos da Petrobras e elevando o custo do gás em cerca de US$ 100 milhões por ano. Para analistas, o episódio mostra a volatilidade nas relações energéticas entre os dois países.

Financiamento ainda indefinido

Pelo desenho preliminar, o reservatório ficaria inteiramente em território boliviano e o Brasil arcaria com a maior parte do financiamento e da tecnologia. Rego avalia que a Bolívia, com orçamento limitado, não teria condições de aportar recursos significativos, transferindo o ônus aos cofres brasileiros.

Já a advogada Isabela Ramagem, do escritório Caputo, Bastos e Serra, lembra que o país vizinho opera usinas como San José 1 e San José 2 e conta com financiamentos do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF). Segundo ela, esses fatores poderiam garantir participação técnica e financeira boliviana, embora ainda não haja definição oficial sobre a divisão de custos.

Sem cronograma divulgado e com incertezas sobre a repartição de responsabilidades, o projeto segue em fase de estudos, enquanto governo e especialistas debatem se os potenciais ganhos estratégicos compensam os riscos de investimento.

Com informações de Gazeta do Povo

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