O café vendido no varejo brasileiro acumulou alta de 99,48% entre janeiro de 2024 e junho de 2025, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O avanço ocorreu após 18 meses consecutivos de reajustes. Julho (-1,01%) e agosto (-2,17%) registraram as primeiras quedas, mas analistas preveem novo encarecimento nos próximos meses.
Escalada de preços ultrapassa a inflação
De janeiro de 2020 a agosto de 2025, o produto subiu 230%, frente a um IPCA acumulado de 37,8%. Na prática, o valor do café avançou 192% acima da inflação oficial. Nesse período, a participação da bebida no custo de vida mensal passou de 0,28% para 0,68%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) mostra variação ainda maior em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro: o quilo do café torrado e moído tradicional saltou de R$ 16,78, em janeiro de 2020, para R$ 66,70, em junho de 2025 — aumento de 297%.
Fatores que puxaram a cotação
A estiagem entre 2021 e 2022 derrubou a produção nacional, considerada a menor safra histórica. Em 2024, a falta de chuvas elevou os custos de manutenção e combate a pragas. No exterior, Vietnã e Indonésia também enfrentaram quebras, reduzindo a oferta global em meio a crescimento do consumo.
Com menor disponibilidade, as cotações da saca de 60 quilos atingiram recordes em 12 de fevereiro de 2025: R$ 2.769,45 para o arábica e R$ 2.087,05 para o robusta, segundo o Cepea/Esalq-USP. O início da colheita, aliado à expectativa de recuperação na Ásia e à retração das vendas no varejo, derrubou os preços em julho para R$ 1.682,70 (-39,2%) e R$ 975,70 (-53,2%), respectivamente.
Nova pressão à vista
Incertezas provocadas por novas barreiras alfandegárias impostas pelos Estados Unidos, além do início das compras de países do Hemisfério Norte, reacenderam a pressão. Geadas em 10 e 11 de agosto no Cerrado Mineiro causaram perdas estimadas entre 400 mil e 600 mil sacas.

Imagem: Mockuuups
Com 96% da colheita encerrada, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta 35,2 milhões de sacas beneficiadas de café arábica na temporada 2025/26, queda de 11,2% ante o ciclo anterior. Enquanto isso, o consumo mundial é estimado em 169,4 milhões de sacas, alta de 1,7%, e os estoques globais devem cair para 21,8 milhões de sacas, menor nível em 25 anos.
O ajuste já chegou à prateleira: em 1.º de setembro, a Melitta reajustou em 15% o preço dos grãos beneficiados. A 3corações aumentou em 10% o café torrado e moído e em 7% o solúvel.
Com informações de Gazeta do Povo