Depois de recuar 2,17% entre julho e agosto, o preço do café no varejo brasileiro tende a subir novamente nas próximas semanas. A combinação de quebra de safra, geadas no Cerrado Mineiro e incertezas criadas pela tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos às exportações brasileiras amplia a pressão sobre a commodity.
Escalada anterior e breve alívio
Entre janeiro de 2024 e junho de 2025, o café moído acumulou alta de 99,48% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A primeira deflação surgiu em julho (-1,01%), mas o movimento durou pouco.
Impacto das novas tarifas
Em 6 de agosto, o governo norte-americano elevou de 10% para 50% as tarifas sobre produtos do Brasil, deixando o café fora das exceções. Naquela data, o arábica era negociado a US$ 286 por cem libras-peso na Bolsa de Nova York, enquanto o robusta valia US$ 3.340 por tonelada em Londres.
Com o adicional tarifário, o custo do arábica brasileiro para o importador norte-americano salta para US$ 579, acima do recorde de 2024 (US$ 448). Entre janeiro e julho, as vendas do Brasil aos EUA já haviam caído 22,4% em relação a igual período de 2024.
Safra menor e perdas por geada
A colheita 2025, praticamente concluída, confirmou redução na produção. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta 35,2 milhões de sacas beneficiadas de arábica, 11,2% a menos que na temporada anterior. Para o Itaú BBA, serão 38,7 milhões de sacas, 11,5% abaixo do ciclo passado.
As geadas de 10 e 11 de agosto no Cerrado Mineiro provocaram perdas estimadas entre 400 mil e 600 mil sacas, agravando a oferta já limitada.
Reação das cotações
Os preços internacionais inverteram a trajetória de queda: em 31 de agosto, o arábica atingiu US$ 386 por cem libras-peso (+34,9% em um mês) e o robusta, US$ 4.815 por tonelada (+44,2%). No mercado interno, a saca de 60 kg de arábica passou de R$ 1.682,70 em julho para R$ 2.323,06 (+38%), enquanto a de robusta saltou de R$ 975,70 para R$ 1.534,41 (+57,3%).
Repasses ao consumidor
No dia 1.º de setembro, a Melitta anunciou alta de 15% nos grãos beneficiados. A 3corações elevou em 10% o preço do torrado e moído e em 7% o do solúvel, citando encarecimento do grão verde, volatilidade e clima adverso.

Imagem: criada utilizando Dall-E
Oferta global ajustada
A Conab prevê consumo mundial recorde de 169,4 milhões de sacas em 2025/26, alta de 1,7%. O estoque de abertura da nova safra, estimado em 21,8 milhões de sacas, é o menor em 25 anos, fator que limita qualquer queda mais expressiva nas cotações.
Exportações redirecionadas
Em agosto, o Brasil embarcou 298 mil sacas para os EUA, 47,1% abaixo do mesmo mês de 2024 e 27% inferior a julho. No mesmo período, a Alemanha comprou 411 mil sacas, superando os norte-americanos como principal destino.
Negociações e receio de retaliação
O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) mantém diálogo com o setor privado norte-americano em busca de isenção da tarifa até o fim do ano. A entidade avalia que o uso da Lei de Reciprocidade Econômica, cogitado pelo governo brasileiro, pode dificultar as conversas.
Com incertezas comerciais, oferta mais apertada e estoques reduzidos, analistas projetam novos reajustes do café para o consumidor brasileiro nos próximos meses.
Com informações de Gazeta do Povo