São Paulo, 27 ago. 2025 – A intensificação dos investimentos chineses no Brasil pode levar a novas punições de Washington, avalia Alberto Pfeifer, pesquisador sênior do Insper Agro Global e coordenador do Grupo de Análise de Estratégia Internacional da USP.
No primeiro semestre de 2025, o Brasil tornou-se o segundo maior destino de capital chinês no exterior. Para Pfeifer, esse movimento incomoda a Casa Branca porque reforça a presença de Pequim numa região vista historicamente como área de influência norte-americana.
Pressão política, jurídica e econômica
Segundo o pesquisador, “quanto mais o Brasil marchar em direção à China, mais sanções receberá dos Estados Unidos, de toda ordem – política, jurídica e econômica – com reflexos internos e sociais”.
Pfeifer enxerga o cenário atual como um “jogo inter-relacionado” no qual Rússia, China e Estados Unidos disputam preponderância, ainda que não exclusividade, sobre zonas estratégicas. Nesse tabuleiro, a América Latina permanece prioritária para Washington.
Tarifaço de até 50% e investigações
Em abril, o presidente Donald Trump impôs tarifa geral de 10% sobre produtos brasileiros. Em 9 de julho, a alíquota subiu para 50%, a mais alta aplicada pelo governo americano a outro país, com algumas exceções. Na carta que acompanhou a medida, Trump citou o processo no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, classificado por ele como “caça às bruxas”.
No dia 15 do mesmo mês, o Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR) abriu investigação sobre práticas brasileiras consideradas “irrazoáveis ou discriminatórias”. Entre os pontos analisados estão o funcionamento do Pix, o comércio de produtos falsificados na Rua 25 de Março, o desmatamento ligado ao agronegócio, a política de etanol e benefícios tarifários concedidos a parceiros como México e Índia.
Autoridades brasileiras sancionadas
Em 30 de julho, o Departamento do Tesouro, via Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC), incluiu o ministro Alexandre de Moraes, do STF, na lista de penalidades previstas pela Lei Magnitsky. A norma prevê bloqueio de bens nos EUA e proíbe transações com cidadãos americanos. Moraes é acusado pelo governo norte-americano de “censura” e “processos politizados”.
Outras autoridades, como o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha e colaboradores do programa Mais Médicos, tiveram vistos revogados e estão impedidas de entrar em território americano. Washington considera a iniciativa uma forma de “trabalho forçado” promovida por Cuba.

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Relatório e mensagens de Trump
Relatório do Departamento de Estado divulgado em 12 de agosto apontou piora em direitos humanos no Brasil em 2024, citando decisões do STF contra aliados de Bolsonaro, bloqueios à rede X (ex-Twitter) e mortes em ações policiais.
Seis dias depois, Trump enviou carta a Bolsonaro reafirmando que o aumento tarifário tem motivação política e criticando “ataques ao livre discurso” nos dois países.
Expectativa de mudança de governo
Pfeifer entende que o objetivo final dos EUA é influenciar o rumo da política externa brasileira. “Os Estados Unidos esperam uma alteração de mandato presidencial ou da orientação internacional do Brasil. Esse é o cálculo final”, afirma.
No Congresso norte-americano, o senador republicano Tom Cotton incluiu no projeto de orçamento de inteligência para 2026 um dispositivo que determina investigação sobre o avanço de empresas chinesas no agronegócio brasileiro e seus impactos na segurança alimentar global.
Para o pesquisador, a iniciativa apenas explicita um monitoramento que já ocorre nos serviços de inteligência. “A China quer entender a produção agrícola brasileira porque vê o Brasil como fornecedor de segurança multidimensional – não só alimentar, mas energética, territorial, social e ambiental”, explica.
Com informações de Gazeta do Povo