O Brasil registrou em 2024 o maior volume de recursos destinados à infraestrutura desde o início da série histórica: R$ 260,6 bilhões. O resultado, superior ao pico anterior de 2014 (R$ 240,7 bilhões), foi garantido pela iniciativa privada, que elevou seus aportes em 22,3% em relação ao ano anterior. No mesmo período, os investimentos de União, estados e municípios recuaram 7,6%.
Os números constam de estudo da EY em parceria com a Associação Brasileira de Infraestrutura e de Indústrias de Base (Abdib). Segundo o levantamento, a participação do setor privado oscila entre 70% e 74% do total investido desde 2020, patamar comparável ao de economias desenvolvidas.
Mais de 500 projetos em estruturação
A Abdib calcula que há mais de 500 projetos em fase de estruturação, estimados em R$ 800 bilhões. O avanço, porém, depende de condições macroeconômicas favoráveis e de um ambiente regulatório confiável.
Rodovias lideram perspectivas
Pela primeira vez, rodovias superaram o saneamento nas expectativas de investimento. As ferrovias apresentaram alta real de 61,1% em 2024, somando R$ 17,9 bilhões, com previsão de R$ 20 bilhões para 2025 — 98% provenientes do capital privado. Portos e aeroportos também permanecem em ritmo de expansão, impulsionados por concessões.
Queda do aporte público
O gasto público em infraestrutura caiu para R$ 48,5 bilhões em 2024, impactado pelo déficit estrutural das contas federais. Mesmo com a retomada do Programa de Aceleração do Investimento (PAC) em agosto de 2023, estimado em R$ 1,7 trilhão, 79,2% das empresas do setor afirmam não integrar o programa, alegando falta de alinhamento estratégico e dificuldades nas modalidades de licitação.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) desembolsou R$ 49,9 bilhões para infraestrutura no ano passado, mas especialistas avaliam que a atuação isolada do banco não supre a retração do investimento direto do governo.
Riscos à continuidade dos investimentos
Analistas apontam fatores que podem comprometer novos aportes:

Imagem: Felipe Brasil
- Taxa Selic em 15%: encarece o financiamento de projetos, sobretudo em transporte e saneamento.
- Crescimento econômico menor: projeção do mercado indica alta de 2,2% do PIB em 2025, abaixo dos 3% registrados nos quatro anos anteriores.
- Baixa formação de capital: a formação bruta de capital fixo representa 17% do PIB, percentual considerado insuficiente para sustentar expansão robusta.
- Confiança do investidor em retração: apenas 40,6% mantêm visão favorável para o próximo semestre, redução de 12,3 pontos percentuais.
- Insegurança jurídica: 13% classificam o ambiente regulatório como “péssimo”, maior índice da série do Barômetro da Infraestrutura.
- Falta de pessoal qualificado: 30,6% das empresas relatam escassez de mão de obra, segundo pesquisa do FGV Ibre.
Agenda para o setor
Estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Inter.B Consultoria propõe oito diretrizes para modernizar a infraestrutura: transformar o tema em política de Estado de longo prazo, ampliar investimento público com racionalidade, adotar análises rigorosas de custo-benefício, reforçar a segurança jurídica, fortalecer agências reguladoras, expandir o mercado de capitais, intensificar o papel do BNDES como estruturador de projetos e elevar o aporte total para 4% do PIB em dez anos.
Eventos como a COP30, marcada para o fim do ano em Belém, são vistos como oportunidade para atrair recursos em projetos sustentáveis. Mesmo assim, 52,6% do mercado não esperam compromissos significativos durante a conferência. O Plano Clima, que estabelece a neutralidade de carbono até 2050, depende de avanços em governança e estabilidade regulatória para sair do papel.
Sem mudanças no cenário de juros, confiança e segurança jurídica, o recorde de 2024 corre o risco de não se repetir nos próximos anos, alertam especialistas.
Com informações de Gazeta do Povo