O número de companhias que recorreram à recuperação judicial alcançou 4.965 no primeiro semestre de 2025, alta de 17,6% sobre igual período de 2024, aponta a consultoria RGF Associados. A escalada coincide com juros em 15% ao ano e com a pressão de novas barreiras impostas pelos Estados Unidos, segundo maior destino dos produtos brasileiros.
Casa Branca mira eventual condenação de Bolsonaro
O governo do presidente Donald Trump acompanha o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, que começa em 2 de setembro no Supremo Tribunal Federal. Caso haja condenação, Washington cogita medidas adicionais, entre elas:
- ampliar tarifas já fixadas em 50% para vários bens brasileiros;
- aplicar a Lei Magnitsky a empresas e bancos do país;
- excluir o Brasil do Swift, sistema internacional de pagamentos.
Desde o tarifaço anunciado em julho, a Casa Branca menciona publicamente a possibilidade de agravar a punição comercial como forma de pressionar Brasília.
Recuperação judicial aumenta e falências também
Duas em cada mil empresas — excluídos os microempreendedores individuais — estavam em recuperação em julho. Quase 30% das que encerram o processo acabam falindo, o maior nível da série histórica da RGF.
A recuperação judicial suspende execuções por até 180 dias e exige um plano de pagamento aos credores. Mesmo assim, a elevada taxa de insucesso indica deterioração de caixa generalizada.
Juros comprimem crédito e consumo
Com a Selic em 15% e perspectiva de recuo tímido em 2025, o crédito bancário segue caro. O custo mais alto:
- encarece capital de giro e posterga investimentos;
- eleva a despesa de rolagem das dívidas existentes;
- reduz o poder de compra das famílias e a demanda por bens e serviços.
“Só veremos recuo nos pedidos de recuperação quando os juros caírem de forma consistente”, afirma Roberta Gonzaga, da RGF.
Tarifaço afeta agronegócio e cadeias produtivas
As taxas de 50% sobre exportações brasileiras atingem principalmente o agronegócio, poupando apenas o suco de laranja. Para a advogada Nathália Grizzi, se as vendas ao mercado americano caírem sem compensação em outros destinos, a tendência é de mais pedidos de recuperação no setor intensivo em capital.

Imagem: Daniel Torok
Lei Magnitsky ampliaria risco sistêmico
O uso da Lei Magnitsky congelaria ativos em dólar e proibiria transações com bancos norte-americanos. “Seria uma bomba atômica na economia brasileira”, alerta Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central. Decisão recente do STF veda aplicação automática de leis estrangeiras no país, criando impasse para instituições que atuam nos dois sistemas jurídicos.
Desorganização interna agrava quadro
Advogados que atuam em reestruturação relatam que muitas empresas procuram ajuda apenas quando o endividamento já está fora de controle. Falta de registro atualizado das dívidas e alavancagem contratada em momentos inadequados são problemas recorrentes.
Centro-Oeste lidera pedidos de recuperação
A região registra 2,75 empresas em recuperação por mil ativas, 40% acima da média nacional. No Mato Grosso, 21,5 produtores de soja e 20,9 de cana por mil enfrentam o processo. Na indústria de transformação agrícola, os índices são ainda mais altos: produção de açúcar (181,4 por mil), derivados de arroz (117,7) e etanol (74,8).
Indústria, serviços e comércio também sofrem
No segundo trimestre, a indústria somou 1.121 processos de recuperação, variação positiva de 0,1%. Serviços registraram 1.117 (+2%) e o comércio, 1.003 (+0,7%), impactados por renda familiar comprometida e juros bancários elevados.
Especialistas recomendam foco estrito no fluxo de caixa, renegociação estruturada de dívidas e ajuste rápido das operações como estratégias de sobrevivência neste ciclo adverso.
Com informações de Gazeta do Povo