A possibilidade de o Supremo Tribunal Federal (STF) condenar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) acendeu o alerta para uma escalada de retaliações econômicas por parte dos Estados Unidos. Analistas afirmam que a tensão ocorre em um momento de fragilidade da economia brasileira e pode aumentar a volatilidade nos mercados domésticos.
Casa Branca já adotou medidas
Em junho de 2025, Washington impôs tarifas de pelo menos 50% sobre a maioria dos produtos brasileiros e enquadrou o ministro Alexandre de Moraes na Lei Magnitsky, que permite punir estrangeiros acusados de corrupção ou violação de direitos humanos. Desde a entrada em vigor do tarifaço, as exportações brasileiras para o mercado norte-americano recuaram 18,5% em agosto.
O presidente dos EUA, Donald Trump, classificou publicamente o julgamento no STF como “perseguição antidemocrática” a um aliado político.
Impacto imediato nos mercados
Se confirmada a condenação, agentes financeiros esperam queda do Ibovespa, valorização do dólar e avanço dos juros futuros. “O mercado projeta novas sanções via Lei Magnitsky caso Bolsonaro seja condenado”, afirma Gabriel Mollo, analista da Daycoval Corretora. Já Antônio Patrus, diretor da Bossa Invest, avalia que os efeitos tendem a ficar restritos a setores de exportação ou operações financeiras sensíveis, sem pôr em risco o conjunto da economia.
Cenários de escalada
A consultoria Eurasia Group mapeia três etapas de possíveis respostas norte-americanas:
- Sanções individuais ampliadas – suspensão de vistos e inclusão de mais autoridades brasileiras na lista Magnitsky.
- Medidas setoriais – novas tarifas com base na Seção 301 do USTR e restrições à transferência de tecnologia.
- Ações extremas – exclusão do Brasil do sistema Swift, hipótese considerada remota.
Dilema dos bancos
Uma decisão do ministro Flávio Dino, de agosto, proíbe o cumprimento automático de ordens estrangeiras no Brasil. Para Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, a regra coloca instituições que operam nos EUA em “sinuca de bico”: se ignorarem a Magnitsky, arriscam multas e suspensão de licenças; se cortarem relações com autoridades brasileiras, podem ser punidas pelo STF.
Banco do Brasil sob risco
O Banco do Brasil, responsável pelo pagamento de salários de diversos servidores – inclusive ministros do STF –, elaborou plano de contingência para proteger cerca de 50 mil clientes nos escritórios de Nova York e Miami. Segundo a Bloomberg, parte das transações pode ser redirecionada a outras unidades no exterior.

Imagem: Victor Pite
Classificação de facções como terrorismo
Christopher Garman, diretor para as Américas da Eurasia Group, aponta chance “significativa” de o governo Trump rotular o Comando Vermelho (CV) e o PCC como organizações terroristas, medida que elevaria os custos de compliance para bancos que atuam no Brasil.
Resposta de Brasília
O Palácio do Planalto estuda contramedidas. Entre as opções, estão punições a empresas que seguirem a Lei Magnitsky, tributação de serviços digitais e retirada de direitos de propriedade intelectual de produtos norte-americanos. A adoção de tarifas recíprocas é vista como menos provável, pois exigiria sete meses de estudos e poderia ser seguida por novas sobretaxas de Washington.
Risco monitorado
Para Adriana Ricci, sócia da SHS Investimentos, o comportamento do câmbio e da Bolsa dependerá da evolução do processo no STF e da habilidade de Brasília e Washington em evitar um rompimento maior. “Qualquer sinal de fragilidade política eleva o prêmio de risco e encarece o crédito para empresas e consumidores”, afirma.
Os mercados seguirão atentos aos desdobramentos judiciais e às negociações diplomáticas nas próximas semanas.
Com informações de Gazeta do Povo