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Agronegócio brasileiro enfrenta escalada de inadimplência e recuperações judiciais em meio a tarifaço dos EUA

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O agronegócio, responsável por 29,4% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2025, vive uma combinação de queda de receitas, alta de juros e novas barreiras externas que amplia o risco de insolvência em toda a cadeia produtiva.

Tarifas americanas acentuam crise financeira

Em 6 de agosto, o governo dos Estados Unidos impôs um adicional de 40% sobre a maior parte das importações brasileiras, somando-se aos 10% aplicados meses antes. Especialistas apontam que a medida, classificada como “fato superveniente excepcional”, deve elevar custos e comprometer contratos com margens já apertadas, especialmente os atrelados a entregas futuras.

Inadimplência cresce pelo quarto mês seguido

Dados do Banco Central mostram que a taxa de inadimplência do crédito rural alcançou 4,4% em julho, 2,5 pontos percentuais acima do mesmo mês de 2024. A Genial Investimentos avalia que o índice deve continuar elevado, acendendo alerta para instituições com alta exposição ao campo — caso do Banco do Brasil, que tem cerca de R$ 405 bilhões (um terço da carteira) destinados ao setor.

Recorde de recuperações judiciais

Levantamento da RGF Associados indica aumento de 13,8% nos pedidos de recuperação judicial “dentro da porteira” entre o primeiro e o segundo trimestre. Já a Serasa Experian registra salto de 22,6% em toda a cadeia no primeiro trimestre de 2025, ante igual período de 2024.

Produtores pessoa física lideram os pedidos, seguidos por fabricantes de açúcar (181,4 recuperações por mil empresas), processadores de arroz (117,6) e produtores de álcool (74,3). Entre as culturas, soja (21,5 por mil), cana-de-açúcar (20,9) e milho (16,8) apresentam os maiores índices. Santa Catarina (33,5), Rio Grande do Sul (31,5) e Goiás (21,1) concentram mais ocorrências.

Principais fatores de pressão

Consultorias citam crédito restrito, juros elevados, queda nos preços internacionais, valorização do real, custos de insumos e clima adverso. O aumento das taxas do Plano Safra 2025/26 agrava o quadro de produtores já altamente alavancados.

Ameaça de sanções via Lei Magnitsky

Além das tarifas, o setor observa risco de extensão da Lei Magnitsky a instituições financeiras brasileiras. Caso bancos com operações nos EUA sejam punidos, o fluxo de crédito para exportações, financiamento de safra e seguros pode ser limitado, tornando mais frequente o recurso à recuperação judicial.

Segmentos mais afetados

Carne bovina

A tarifa total sobre carne bovina in natura destinada aos EUA chegou a 76,4% (50% do novo tarifaço mais 26,4% extracota), tornando as vendas praticamente inviáveis. Grandes frigoríficos como JBS, Marfrig e Minerva contam com plantas no exterior para redirecionar a produção, mas criadores de gado já registram 9,6 recuperações judiciais por mil produtores.

Café

A tarifa de 50% sobre o café brasileiro compromete a competitividade nos EUA, maior mercado consumidor do mundo. Substituir o produto não será simples e pode pressionar preços ao consumidor norte-americano.

Cana-de-açúcar e etanol

Fragilizado, o setor sucroenergético soma 20,9 recuperações por mil produtores. Entre as usinas de açúcar bruto, 39 das 215 empresas estão em recuperação. O redirecionamento das exportações para mercados asiáticos e do Oriente Médio tende a reduzir margens. No caso do etanol, 15% das vendas externas têm os EUA como destino, mas a dificuldade de substituição e a maior mistura do biocombustível na gasolina doméstica funcionam como alívio parcial.

Soja

Pedido do governo norte-americano para que a China amplie as compras de soja dos EUA pode reduzir espaço para o grão brasileiro. As recuperações judiciais na cultura atingem 21,5 por mil produtores, alta de 67% em dois anos.

Com a combinação de tarifas, inadimplência crescente e possíveis sanções financeiras, analistas projetam novo aumento nos pedidos de recuperação judicial ao longo do segundo semestre.

Com informações de Gazeta do Povo

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