O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmou, em 20 de agosto de 2025, que não concederá o agrément para a nomeação do diplomata Gali Dagan como novo embaixador de Israel no Brasil. A decisão, anunciada pelo assessor especial para assuntos internacionais Celso Amorim durante audiência na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, aprofunda o atrito diplomático iniciado com a retirada do país da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA) no fim de julho.
Impasse em Brasília
O último chefe da missão israelense, Daniel Zoshine, aposentou-se na semana passada. Desde então, o posto permanece vago. Amorim afirmou que a recusa ao nome de Dagan é consequência da declaração de persona non grata imposta a Lula pelo governo israelense após o presidente comparar, em fevereiro de 2024, a ofensiva militar em Gaza ao regime nazista.
Segundo o assessor, outra razão para o bloqueio é o tratamento dado ao então embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer, convocado pelo chanceler Israel Katz a prestar esclarecimentos em um museu do Holocausto e submetido a uma reunião em hebraico, língua que não domina.
Reação internacional e doméstica
A saída da IHRA foi qualificada pelo Ministério das Relações Exteriores de Israel como “profunda falha moral”. Fernando Lottenberg, comissário da Organização dos Estados Americanos, classificou a decisão de “grave equívoco”.
No Brasil, o posicionamento gerou desconforto entre autoridades de origem judaica. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Roberto Barroso, e o ministro Luiz Fux criticaram publicamente a medida. Já o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), lamentou a comparação de Israel com o nazismo e considerou o gesto “ofensivo” à memória do Holocausto.
Davi Alcolumbre (União-AP), que preside o Senado, também se viu pressionado. Em dezembro de 2024, após Lula não sancionar a lei que instituiu o Dia da Amizade Brasil-Israel, coube a Alcolumbre promulgar o texto.
Repercussão no Congresso
Parlamentares de oposição apresentaram requerimentos ao Itamaraty solicitando explicações sobre a ruptura com a IHRA. O deputado Marcel van Hattem (Novo-RS) protocolou moção de repúdio, enquanto Tábata Amaral (PSB-SP) pediu detalhes sobre os impactos diplomáticos da decisão.
Na outra margem, a Federação Árabe Palestina do Brasil celebrou a iniciativa e defendeu o rompimento total das relações bilaterais com Israel.

Imagem: Andressa Anholete
Preocupação com avanço do antissemitismo
Entidades judaicas alertam para possível aumento de episódios de ódio. A World Jewish Congress classificou a retirada da aliança como “irresponsável e profundamente preocupante”, e o Combat Antisemitism Movement acusou o Palácio do Planalto de “dar as costas aos judeus brasileiros”.
Levantamento da própria IHRA aponta que o Brasil abriga entre 107 mil e 130 mil judeus, a maioria na cidade de São Paulo. O prefeito paulistano, Ricardo Nunes (MDB), aderiu à campanha Diga Não ao Antissemitismo, reforçando o compromisso municipal de proteger essa comunidade.
Posicionamento sobre o Hamas
Durante a audiência na Câmara, Amorim reiterou que o Brasil ainda não classifica o Hamas como organização terrorista, alegando que tal designação só seria adotada caso o Conselho de Segurança da ONU tomasse decisão nesse sentido.
Possíveis impactos externos
Para o senador Carlos Viana (Podemos-MG), presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Israel, o isolamento diplomático pode afetar relações comerciais com democracias ocidentais. Analistas do Instituto Monitor da Democracia veem na atual política externa um “afrouxamento” do compromisso histórico brasileiro com o combate ao antissemitismo.
Com o cargo de embaixador israelense vazio e o representante brasileiro em Tel Aviv de volta a Brasília, Brasil e Israel atravessam um impasse sem precedentes, sem previsão de reaproximação.
Com informações de Gazeta do Povo