Bogotá (Colômbia) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta sexta-feira (22) que países desenvolvidos utilizam o enfrentamento ao crime organizado como justificativa para violar a soberania de nações em desenvolvimento. A declaração foi feita durante a V Cúpula de Presidentes dos Estados Partes do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), realizada na capital colombiana.
O pronunciamento de Lula ocorre em meio a atritos diplomáticos entre Brasil e Estados Unidos. O governo brasileiro considera estagnadas as negociações com Washington para reverter a tarifa extra de 50% imposta pelo presidente norte-americano Donald Trump a produtos brasileiros.
“Há muito tempo os países ricos nos acusam de não cuidar da floresta. Aqueles que poluíram o planeta tentam impor modelos que não nos servem. Usam a luta contra o desmatamento como justificativa para o protecionismo. Usam o combate ao crime organizado como pretexto para violar nossa soberania”, declarou o presidente brasileiro.
Referência a operação dos EUA na Venezuela
Sem mencionar os Estados Unidos diretamente, Lula citou o recente envio de navios de guerra norte-americanos para a costa da Venezuela, ação voltada ao combate ao tráfico internacional de drogas e a cartéis latino-americanos. O governo brasileiro vê a iniciativa como exemplo de interferência externa. A operação motivou o presidente venezuelano Nicolás Maduro a mobilizar 4,5 milhões de milicianos.
Críticas ambientais e COP 30
Lula também criticou nações ricas por cobrarem metas ambientais sem, segundo ele, oferecer financiamento adequado para a preservação de florestas e o enfrentamento das mudanças climáticas. O tema deve ser um dos principais pontos de debate da COP 30, marcada para novembro em Belém.
“Será a hora de os líderes mundiais mostrarem se estão realmente comprometidos com o futuro do planeta. Não existe saída individual para a crise climática”, disse.

Imagem: Ricardo Stuckert
Mercosul e União Europeia
A pauta ambiental continua a dificultar o fechamento do acordo entre Mercosul e União Europeia, sobretudo devido às restrições da França, que alega proteção ambiental para defender seu setor agropecuário. Na quarta-feira (20), Lula telefonou ao presidente francês Emmanuel Macron para reclamar da sobretaxa imposta por Trump e tentar avançar na ratificação do tratado. Macron respondeu que está disposto a assinar o acordo desde que sejam salvaguardados os interesses agrícolas franceses e europeus.
O governo brasileiro também enfrenta críticas internas pela condução do processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF), que auxiliares de Lula classificam como questão de soberania nacional.
Com informações de Gazeta do Povo