O governo de Tuvalu, pequeno arquipélago polinésio com cerca de 11 mil habitantes, deu início em 2025 ao Falepili Union Treaty, acordo que autoriza a entrada anual de 280 tuvaluanos na Austrália. O programa recebeu mais de 5 mil inscrições entre 16 de junho e 18 de julho, número que representa quase metade da população.
Arquipélago ameaçado
Formado por nove ilhas e atóis distribuídos em apenas 26 km², Tuvalu convive com a elevação do nível do mar desde a década de 1980. Estudo da Nasa divulgado em 2023 apontou aumento de 15 centímetros nos últimos 30 anos, com ritmo anual de 5 milímetros. A projeção indica que, até 2050, grande parte da área habitável ficará abaixo da maré alta, comprometendo agricultura e abastecimento de água, hoje dependentes da chuva.
A situação já provoca secas prolongadas, ciclones mais frequentes e ressacas intensas. Na Conferência do Clima da ONU, em 2021, o então primeiro-ministro Simon Kofe discursou com as pernas submersas para alertar sobre o risco de o país “afundar”.
Detalhes do tratado com a Austrália
Assinado em 2025, o Falepili Union Treaty oferece um visto climático e de segurança a tuvaluanos selecionados por sorteio. A iniciativa marca mudança na política interna: por anos, autoridades locais resistiram à migração em massa, rejeitando propostas de realocação feitas por Fiji.
O acordo é alvo de críticas. O ex-primeiro-ministro Enele Sopoaga afirma que o texto concede à Austrália poder de veto em temas de segurança nacional, reduzindo a autonomia de Tuvalu. Debates parecidos já ocorreram em 2019, quando o então embaixador australiano nos EUA, Kevin Rudd, sugeriu residência para 75 mil habitantes de Tuvalu, Kiribati e Nauru em troca do controle de suas Zonas Econômicas Exclusivas.

Imagem: Aboodi Vesakaran Unsplash
Obras de adaptação em andamento
Paralelamente à rota migratória, Tuvalu mantém o Tuvalu Coastal Adaptation Project (TCAP). A segunda fase, iniciada em 2024, prevê proteger 800 metros de costa e criar 8 hectares de terra elevada até 2026. No longo prazo, o plano Te Lafiga o Tuvalu propõe erguer 3,6 km² de áreas seguras, capazes de abrigar toda a população além de 2100, com sistemas sustentáveis de água, energia, escolas e hospitais.
Enquanto novas terras são levantadas, a região hoje ocupada deve ser transformada temporariamente em vegetação para posterior elevação do solo. As iniciativas buscam manter parte da população no país, mas a migração para a Austrália desponta como alternativa diante do agravamento das mudanças climáticas.
Com informações de Gazeta do Povo