Washington (18/08/2025) – A sugestão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que Kiev aceite abrir mão de partes de seu território para encerrar a guerra esbarra em um obstáculo legal: a própria Constituição ucraniana.
Trump mencionou a ideia pela primeira vez na sexta-feira (15), depois de uma reunião no Alasca com o presidente russo, Vladimir Putin. Em entrevista à Fox News, o líder norte-americano afirmou ter chegado a um entendimento com o Kremlin sobre a possibilidade de a Ucrânia ceder regiões ocupadas por Moscou.
Três dias depois, já na Casa Branca e às vésperas de um encontro com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, além de líderes europeus e da Otan, Trump reiterou o ponto em sua rede Truth Social. Segundo ele, o “caminho para a paz” incluiria o reconhecimento da Crimeia como russa – península anexada em 2014 – e a desistência de Kiev de ingressar na Aliança Atlântica.
Situação no terreno
Atualmente, cerca de 19% do território ucraniano está sob controle de Moscou. Além da Crimeia, isso inclui toda a região de Lugansk, a maior parte de Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia, além de pequenas áreas nas províncias de Sumy e Kharkiv, ocupadas desde a invasão iniciada em 2022.
No fim de semana, Zelensky reconheceu que poderia aceitar um cessar-fogo com base na linha de frente atual, mas não falou em concessões permanentes. “Precisamos de negociações reais, o que significa começar de onde a linha de contato está agora”, declarou.
Empecilho constitucional
O artigo 73 da Constituição da Ucrânia determina que qualquer alteração territorial só pode ocorrer após um referendo nacional. Para convocar a consulta, é necessário coletar assinaturas de 3 milhões de eleitores distribuídos em pelo menos dois terços das regiões do país.
Imagem: AAR SCHWARTZ
Resistência popular
Levantamento do Instituto Internacional de Sociologia de Kiev, realizado em junho, indica forte oposição da população à entrega de terras: 68% dos entrevistados rechaçam reconhecer oficialmente áreas ocupadas como russas, enquanto 24% aceitariam essa hipótese. Além disso, 78% rejeitam ceder locais ainda controlados pelas forças ucranianas, exigência feita por Putin. O estudo não incluiu moradores de zonas atualmente ocupadas pela Rússia.
A proposta de cessão territorial, defendida por Trump como solução para o conflito, terá de enfrentar não apenas a legislação ucraniana, mas também a opinião pública do país, majoritariamente contrária a qualquer renúncia definitiva de soberania.
Com informações de Gazeta do Povo
