O jornal britânico Financial Times publicou nesta terça-feira (12) uma reportagem que descreve como “sem precedentes” o atual confronto entre Estados Unidos e Brasil e avalia que o impasse tende a se intensificar.
Segundo o veículo, o ponto mais recente de tensão foi a tarifa de 50% sobre importações brasileiras, imposta pela administração de Donald Trump e válida desde a última quarta-feira (6). O governo americano justificou a medida citando o processo no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, classificado por Washington como “caça às bruxas”.
Em resposta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva optou por telefonar aos parceiros do Brics — o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e o presidente russo, Vladimir Putin — em vez de buscar contato direto com Trump. A reportagem lembra ainda que Lula conversou com o líder chinês, Xi Jinping, na noite de segunda-feira (11).
O Financial Times afirma que a reação brasileira evidencia a natureza incomum do embate com Washington, “sem perspectiva de solução rápida”. Embora Trump costume mudar de posição repentinamente, o jornal avalia que, desta vez, o desentendimento não será fácil de resolver e pode “facilmente se agravar”.
A publicação acrescenta que o governo dos EUA poupou cerca de 700 itens da cobrança extra — entre eles suco e polpa de laranja, além de aeronaves civis. Ainda assim, Trump reclama do que chama de “déficits comerciais insustentáveis” com o Brasil, apesar de dados oficiais apontarem superávit de US$ 7,4 bilhões para os americanos em 2024.
Outro ponto citado é a pressão de Trump para que o STF revogue regras consideradas rígidas sobre empresas de mídia social dos Estados Unidos. O republicano alega que a Corte brasileira teria emitido “centenas de ordens de censura secretas e ilegais”.
Imagem: André Borges via gazetadopovo.com.br
O jornal recorda ainda que, no fim de julho, o Departamento do Tesouro aplicou sanções financeiras ao ministro do STF Alexandre de Moraes com base na Lei Magnitsky. Antes disso, o Departamento de Estado havia revogado os vistos de Moraes, de alguns colegas de Corte e de seus familiares.
O Financial Times destaca que o confronto acontece em momento delicado para Lula, que pretende disputar um quarto mandato na eleição de outubro de 2026, em meio à forte polarização política brasileira.
Com informações de Gazeta do Povo
