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Trump reedita estratégia do “Grande Porrete” para frear avanço econômico da China

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Brasília, 10 de agosto de 2025. A ofensiva tarifária conduzida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recoloca em cena a política do “Big Stick”, usada no início do século 20 por Theodore Roosevelt para proteger interesses norte-americanos na América Latina. Desta vez, o alvo central é a China, considerada pela Casa Branca a principal ameaça à hegemonia econômica dos EUA.

Diplomacia da força repaginada

Roosevelt pregava “falar suavemente e carregar um grande porrete”. Trump, porém, dispensou o tom suave e expandiu o raio de ação para além do continente americano, atingindo parceiros tradicionais como Coreia do Sul, Japão, Canadá e países europeus. A estratégia inclui sobretaxas que chegaram a 145% sobre produtos chineses – hoje estabilizadas em torno de 30% – e podem atingir 100% em novos setores, segundo a Presidência.

“O pano de fundo é conter a ascensão chinesa”, avalia Lívio Ribeiro, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). Para ele, a América Latina tornou-se “campo de batalha óbvio” após o avanço comercial asiático dos últimos 25 anos. Leonardo Paz Neves, do Núcleo de Inteligência Internacional da FGV, acrescenta que Trump busca “favorecimento transversal” semelhante ao de Roosevelt, embora com um xadrez “errático e indefinido” frente a Pequim.

Resposta chinesa

A China vem reforçando o mercado interno desde a crise financeira de 2008 e ampliou parceiras para reduzir dependência dos EUA. Quando Washington elevou tarifas, Pequim restringiu a exportação de sete terras raras, insumos essenciais para eletrônicos e sistemas de defesa, pressionando cadeias produtivas norte-americanas e forçando negociações.

“Terras raras têm hoje o mesmo poder de convencimento que a bomba atômica”, compara Ribeiro. O envio do material só foi retomado após redução de tarifas sobre produtos chineses.

Reindustrialização e obstáculos

Trump tenta atrair fábricas para o território americano e diminuir o déficit comercial, que caiu para US$ 60,2 bilhões em junho de 2025, menor nível desde setembro de 2023. O plano prevê substituir importações por produção doméstica e gerar empregos em setores estratégicos.

No entanto, Paz Neves destaca a necessidade de “estabilidade nas regras por décadas” para que indústrias se instalem nos EUA. Ribeiro classifica o movimento como “complexo e caro” e duvida da disposição do trabalhador norte-americano para empregos de linha de produção.

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Imagem: TOLGA AKMEN via gazetadopovo.com.br

Aliados sob pressão

Para economistas, a política do “Grande Porrete” desgasta alianças ao não oferecer contrapartidas. Europa, Canadá e Japão aceitaram acordos considerados “pesados” por analistas, enquanto países emergentes observam oportunidades com a China.

No Brasil, a tarifa de 50% sobre o café levou Pequim a licenciar mais de 180 empresas brasileiras. “Trump tira comércio dos Estados Unidos e entrega para a China”, resume Ribeiro. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já iniciou contatos com líderes do Brics para coordenar respostas às tarifas, começando por Índia e China. A Índia, por sua vez, também enfrenta sobretaxa de 50% imposta por Washington.

Hegemonia em disputa

Especialistas concordam que, apesar da turbulência, a liderança global dos EUA permanece. “Quem antecipa o fim do império americano vai errar por muito tempo”, afirma Ribeiro. Contudo, novos atores ganham espaço e fragmentam o poder internacional.

Para o governo Trump, eventuais ajustes dependem das eleições legislativas de 2026. Até lá, a escalada tarifária segue sem sinais de recuo: “Trump não vai parar, de jeito nenhum”, conclui o pesquisador do Ibre.

Com informações de Gazeta do Povo

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