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Brasil fica isolado no tarifaço de Trump e segue com sobretaxa recorde de 50%

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Brasília – Quatro meses depois do anúncio do novo pacote tarifário dos Estados Unidos, o Brasil continua sem acordo e convive com a alíquota mais alta em vigor no mundo – 50% sobre suas exportações para o mercado norte-americano. A falta de avanço diplomático levou analistas a classificar o país como o “pior negociador” no embate comercial iniciado pelo ex-presidente Donald Trump em 2 de abril de 2025.

A sobretaxa entrou em vigor no último dia 6 de agosto. Desde então, mais da metade dos produtos brasileiros destinados aos EUA passou a pagar 50%. Uma lista de exceção com cerca de 700 itens foi mantida, mas, mesmo nessas mercadorias, a cobrança mínima é de 10%.

Negociação emperrada

Enquanto outros países ou blocos conseguiram reduzir ou suspender parte dos encargos ao longo do segundo trimestre, o governo Luiz Inácio Lula da Silva não registrou progresso. O único encontro de alto nível ocorreu entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, sem resultados concretos.

Lula e Trump ainda não conversaram diretamente. O presidente brasileiro considera as tarifas “chantagem inaceitável” e afirma que não aceitará ser “humilhado” em negociação com Washington. Trump, por sua vez, declarou publicamente que o colega poderia telefonar “quando quisesse”.

Pressão interna e críticas de especialistas

Setores como carnes, café, celulose e minério relatam queda de contratos e buscam alternativas para evitar demissões. Economistas ouvidos pela reportagem atribuem o impasse à postura do Planalto:

Juliana Inhasz, do Insper, avalia que “fazer oposição na marra” coloca o Brasil em desvantagem e compara a estratégia a “síndrome de Chihuahua”.
Simão Sílber, da USP, afirma que “trucar os Estados Unidos é coisa de maluco” e lembra que o país sofre hoje “o maior imposto de importação do planeta”.
Mauro Rochlin, da FGV-SP, destaca que as exceções concedidas por Trump ocorreram para proteger cadeias produtivas americanas, não por negociação brasileira.

Minerais críticos na mesa

Dentro do governo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sugere usar as reservas nacionais de terras raras como moeda de troca. O Brasil possui a segunda maior jazida desse grupo de minerais, vitais para tecnologia, carros elétricos e defesa. Os EUA buscam fontes fora da China desde que Trump decretou emergência no setor em 2020.

Diplomatas norte-americanos demonstraram interesse em um acordo sobre exploração desses minérios em território brasileiro. Lula, porém, declarou: “Se esse mineral já é crítico, eu vou pegar para mim”, sem mencionar que o país ainda carece de infraestrutura para processar o material.

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Imagem: André Borges – EFE via gazetadopovo.com.br

OMC e Brics

Na última quarta-feira (6), o Itamaraty abriu consulta na Organização Mundial do Comércio (OMC), acusando as sobretaxas de ferirem o princípio da Nação Mais Favorecida. Especialistas lembram que o sistema de solução de controvérsias do órgão está parcialmente paralisado desde 2019 por bloqueio dos EUA, o que limita a eficácia da medida.

No mesmo dia, Lula telefonou para o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, reforçando a parceria dentro do Brics. Índia e Brasil estão entre os mais atingidos pelo tarifaço, mas analistas veem risco de isolamento, pois o bloco não teria capacidade de substituir a demanda norte-americana pelos produtos brasileiros.

Além disso, Washington cogita ampliar punições caso o governo brasileiro mantenha a importação de óleo diesel da Rússia, considerada apoio indireto ao esforço de guerra de Vladimir Putin na Ucrânia.

Sem agenda definida para diálogo presidencial e sob pressão do setor produtivo, o Brasil segue como único grande exportador ainda sujeito à tarifa plena de 50% imposta por Trump.

Com informações de Gazeta do Povo

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