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Demissão de chefe do BLS por Trump levanta temor de politização nas estatísticas dos EUA

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, demitiu na sexta-feira (1º) a economista Erika McEntarfer, comissária do Bureau of Labor Statistics (BLS), após a divulgação de números de emprego considerados fracos pela Casa Branca. A decisão, raramente vista na história centenária do sistema estatístico norte-americano, suscita receios de interferência política na produção de dados oficiais.

O BLS, vinculado formalmente ao Departamento do Trabalho, atua de maneira autônoma na compilação de informações sobre emprego, preços, salários e produtividade. McEntarfer, nomeada com aval do Senado, era a única integrante indicada politicamente dentro da agência; o corpo técnico permanece composto por servidores de carreira.

Cautela de economistas e ex-autoridades

A ex-secretária do Tesouro e ex-presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, classificou a demissão como um ato “que só se veria em uma república de bananas”. Já o atual presidente do Fed, Jerome Powell, lembrou que “dados confiáveis são essenciais” para decisões de política monetária que afetam juros de hipotecas e financiamentos.

Ex-dirigentes do BLS de governos democratas e republicanos rejeitam a alegação de Trump de que os resultados seriam manipulados para prejudicá-lo. Segundo eles, o comissário não tem acesso antecipado aos números nem autoridade para alterá-los.

Exemplos internacionais que deram errado

Especialistas citam experiências negativas de outros países como alerta. Na Grécia, déficits subestimados contribuíram para a crise da dívida. Na China, governos locais maquiaram taxas de crescimento no início dos anos 2000. O caso mais conhecido é o da Argentina, que, sob as administrações Kirchner, reduziu artificialmente a inflação, perdendo credibilidade e elevando custos de empréstimo até culminar em calote externo.

Risco de ajustes sutis

Katharine G. Abraham, que comandou o BLS nos governos Clinton e George W. Bush, alertou que um sucessor “poderia, aos poucos, mexer nos métodos para inclinar resultados”. Intervenções diretas já ocorreram: em 2007, o governo de Néstor Kirchner afastou o responsável pelo índice oficial de preços e passou a divulgar inflação menor que a real.

Atualmente, o posto de McEntarfer é ocupado interinamente por William J. Wiatrowski, servidor veterano e respeitado. Mesmo assim, ex-funcionários do sistema estatístico passaram a questionar o futuro da autonomia dos números oficiais. “Se os índices de pobreza vierem bons, o diretor do Censo recebe aumento? E se o PIB decepcionar?”, indagou Amy O’Hara, ex-analista do Census Bureau e professora da Universidade de Georgetown.

A ex-chefe de estatísticas dos EUA no primeiro governo Trump, Nancy Potok, observa que o apoio bipartidário à independência das agências diminuiu no momento em que restrições orçamentárias e pressões políticas aumentam. “Os defensores dos dados econômicos já não estão mais lá”, lamentou.

Trump afirmou que indicará nos próximos dias um novo chefe permanente para o BLS. Até lá, analistas monitoram de perto qualquer mudança metodológica que possa comprometer a confiabilidade de um sistema estatístico considerado referência mundial há um século.

Com informações de InfoMoney

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