Austin (Texas) – Depois do abate em massa de aves provocado pela gripe aviária, que pressionou o preço dos ovos nos Estados Unidos, outro inimigo preocupa o agronegócio: a bicheira-do-Novo Mundo (Cochliomyia hominivorax). Pecuaristas texanos alertam que o país não está preparado para um possível surto da praga, capaz de dizimar rebanhos bovinos e encarecer ainda mais a carne.
Ameaça se aproxima da fronteira
A mosca parasita, endêmica na América do Sul, já foi detectada a cerca de 600 quilômetros da divisa com o Texas, avançando pelo Corredor do Darién. O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) atribui o avanço ao transporte ilegal de gado e às condições climáticas mais quentes.
Em audiência na capital texana neste mês, Stephen Diebel, vice-presidente da Associação de Criadores de Gado do Texas e do Sudoeste, pediu ação imediata: “Se esperarmos, perderemos”, disse aos legisladores.
Como a praga age
Uma fêmea deposita entre 10 e 400 ovos em feridas recentes de animais. Em poucas horas, surgem larvas que se enterram na carne viva, atraindo novas moscas. Sem tratamento aprovado, uma vaca pode morrer em até duas semanas.
“Parece filme de terror”, afirmou o comissário de Agricultura do Texas, Sid Miller, que testemunhou casos nos anos 1960, antes da erradicação quase total nos EUA.
Capacidade de resposta é insuficiente
Na década de 1950, o país eliminou a bicheira com a liberação semanal de cerca de 600 milhões de moscas estéreis, tecnologia que impede a reprodução da espécie, pois a fêmea acasala apenas uma vez.
Hoje, a infraestrutura disponível é limitada. Em junho, a secretária da Agricultura, Brooke Rollins, destinou US$ 8,5 milhões para um centro no Texas que produzirá machos estéreis e anunciou US$ 21 milhões para reformar uma fábrica no México, com capacidade de 60 a 100 milhões de insetos por semana – somente 20% do necessário para conter um surto, segundo especialistas.
O senador John Cornyn (Partido Republicano) propôs lei que libera US$ 300 milhões para construir uma nova unidade de produção e esterilização, mas o projeto aguarda votação na Câmara.

Imagem: infomoney.com.br
Impacto econômico já pesa
O rebanho bovino norte-americano está no menor nível desde 1952, reflexo de seca e alto custo da ração. Em maio, o preço médio da carne moída alcançou US$ 5,98 por libra, segundo o Bureau of Labor Statistics. Antes da erradicação, as perdas anuais causadas pela bicheira chegavam a US$ 20 milhões.
A praga também afeta o comércio exterior. Importações de gado do México, que respondem por 3% do rebanho dos EUA, foram suspensas em novembro, retomadas em fevereiro após novas inspeções e bloqueadas novamente em maio após ocorrências em Veracruz e Oaxaca.
Caso chegue ao território norte-americano, a bicheira pode atingir o Texas em até quatro meses, estimou Sid Miller. Produtores locais pressionam o estado a financiar uma fábrica de moscas estéreis sem esperar recursos federais. O governador Greg Abbott determinou a criação de uma equipe de resposta conjunta entre o Departamento de Parques e Vida Selvagem e a Comissão de Saúde Animal, mas ainda não se pronunciou sobre verbas estaduais.
Enquanto soluções definitivas não saem do papel, o setor pecuário segue em alerta diante de um possível novo golpe sanitário e econômico.
Com informações de InfoMoney