Brasília – 01/08/2025. Declarações do perito Eduardo Tagliaferro, que trabalhou com o ministro Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), reacenderam questionamentos sobre a atuação do magistrado no Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-assessor afirma possuir provas de abusos na Corte, mas condiciona a divulgação do material a garantias de segurança para ele e sua família.
As falas surgem no momento em que Moraes enfrenta desgaste político após ter sido incluído pelo governo dos Estados Unidos nas sanções previstas pela Lei Magnitsky. O episódio expôs fissuras internas: nem todos os integrantes do STF assinaram nota de apoio ao colega.
Questionamentos sobre o “timing”
Para o cientista político Adriano Cerqueira, do Ibmec-BH, a escolha de Tagliaferro de tornar as acusações públicas agora é estratégica. “O ministro está fragilizado; escolher este momento pode potencializar o impacto”, avalia. O professor aponta sinais de isolamento de Moraes dentro do próprio tribunal.
Em sentido oposto, Tédney Moreira, doutor em Direito pela UnB e docente do Ibmec Brasília, argumenta que a demora em apresentar provas “compromete a credibilidade da denúncia”. Segundo ele, sem documentação, as alegações de lawfare carecem de sustentação jurídica.
Acusações e indiciamento
Na manhã desta sexta-feira (1º), em entrevista à Rádio Auriverde, Tagliaferro reforçou a tese de perseguição política e insinuou conluio entre STF e Procuradoria-Geral da República (PGR). O perito revelou estar na Itália em busca de proteção, relatando ter dito à esposa em 31 de março de 2024 temer ser preso ou morto caso falasse.
O ex-assessor foi indiciado em abril pelo suposto vazamento de mensagens trocadas entre membros do STF e do TSE quando Moraes presidia a Justiça Eleitoral. Desde então, evitou a imprensa e não compareceu ao Senado quando convocado. Em áudio reproduzido pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na Comissão de Segurança Pública, prometeu depor “no momento oportuno”.
Paralelos com a Lava Jato
As revelações têm sido comparadas ao vazamento de diálogos que impactou a Operação Lava Jato. Cerqueira ressalta, contudo, que agora o processo começa e termina no STF, enquanto a Lava Jato enfrentou revisão de instâncias superiores. Para Moreira, qualquer analogia depende de apresentação de provas e abertura de procedimento formal.

Imagem: Alejandro Zambrana via gazetadopovo.com.br
Possíveis desdobramentos
Cerqueira não descarta que Tagliaferro esteja negociando proteção ou benefícios, possivelmente como delator. Caso as provas se mostrem consistentes, o STF poderia rever decisões, o que colocaria Moraes em uma batalha pela própria sobrevivência institucional. Moreira defende que o material seja entregue à Polícia Federal ou ao Ministério Público Federal; se o caso chegar ao STF, o ministro deveria ser declarado impedido.
Resposta de Moraes às sanções
Na sessão de reabertura do STF nesta sexta (1º), Moraes afirmou que ignorará as sanções dos EUA e seguirá como relator da ação penal sobre a suposta tentativa de golpe de 2022. O presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, e o ministro Gilmar Mendes também criticaram as medidas americanas. Moraes chamou de “pseudo patriotas” os brasileiros que, segundo ele, articularam as punições e o tarifaço de 50 % imposto por Donald Trump a produtos do país.
As próximas semanas devem definir se Tagliaferro apresentará as evidências que diz possuir e qual será a reação institucional do STF em meio à crescente pressão política.
Com informações de Gazeta do Povo