São Paulo — O ex-prefeito Paulo Maluf, 93 anos, permanece com uma dívida estimada em aproximadamente R$ 784 milhões com os cofres da capital paulista, mesmo depois de um acordo firmado nesta semana para a devolução de R$ 210 milhões desviados da administração municipal nos anos 1990.
O acerto foi assinado pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e pela Procuradoria-Geral do Município na última terça-feira (29) com quatro filhos, uma ex-nora, um ex-genro do político, além de uma empresa offshore sediada no Uruguai e um banco brasileiro atualmente acionista da Eucatex, companhia da família.
Desvio estimado em US$ 300 milhões
Segundo o MP-SP, Maluf desviou cerca de US$ 300 milhões — valor hoje equivalente a R$ 1,68 bilhão — entre 1993 e 1996, período em que comandou a prefeitura pela segunda vez. Ao longo de 29 anos, a Promotoria contabiliza a recuperação de cerca de US$ 160 milhões (R$ 896 milhões), quantia que cobre pouco mais da metade do montante apontado como subtraído.
Considerando os valores já restituídos e o novo acordo, restam cerca de R$ 784 milhões a serem devolvidos, conforme cálculos do MP-SP com base no câmbio desta quarta-feira (30).
Obras investigadas
O acerto divulgado agora decorre de investigações sobre desvios em obras como o Túnel Ayrton Senna, na região do Parque do Ibirapuera, e a antiga Avenida Água Espraiada, hoje Avenida Jornalista Roberto Marinho. Outros processos envolvendo Maluf e familiares seguem em tramitação e não são afetados pela nova negociação.
Patrimônio bloqueado e repatriação de recursos
Em fevereiro deste ano, a Justiça paulista penhorou 19 imóveis do ex-prefeito para garantir o pagamento de R$ 417 milhões em outra ação. Entre os bens está uma mansão de frente para o mar no Guarujá, além de apartamentos, terrenos e imóveis comerciais na capital.
Antes disso, em março de 2024, o Supremo Tribunal Federal da Suíça determinou a repatriação ao Brasil de US$ 16,3 milhões (cerca de R$ 91 milhões) mantidos por Maluf em contas no país europeu.
Condenações criminais
No âmbito penal, o Supremo Tribunal Federal condenou Maluf, em 2017, a sete anos e nove meses de prisão por lavagem de dinheiro. A pena foi extinta em 2023, com base no indulto natalino assinado pelo então presidente Jair Bolsonaro no ano anterior.

Imagem: Nilson Bastian via gazetadopovo.com.br
O político ainda é alvo de uma ordem de prisão emitida pela Promotoria de Nova York desde 2007, também por lavagem de dinheiro, e foi condenado na França a três anos de prisão e pagamento de multa em processo similar.
Repercussão
A procuradora-geral do município, Luciana Sant’Anna Nardi, classificou o acordo como “muito bom para todas as partes, principalmente para o interesse público”. Em nota, a prefeitura afirmou que o entendimento representa “um marco na execução de acordos transnacionais e ações judiciais contra desvios de recursos públicos”.
Já a Transparência Internacional declarou em rede social que “trinta anos depois, quase metade do rombo milionário ainda não foi recuperada” e que Maluf “continua sendo símbolo mundial de impunidade”.
Maluf nega ter cometido irregularidades. O advogado Eduardo Diamantino, que representa familiares do ex-prefeito, disse que o acordo “encerrra controvérsia judicial sem estar sujeito às incertezas do processo”.
Com informações de Gazeta do Povo