Washington (29.jul.2025) – A administração do ex-presidente Donald Trump e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciaram nesta terça-feira (29) um entendimento político que prevê a compra de US$ 750 bilhões em exportações de energia dos Estados Unidos pela União Europeia e a aplicação de US$ 600 bilhões em investimentos europeus na economia norte-americana até 2028.
Pelo acerto, Washington fixará em 15% o teto das tarifas de importação sobre a maioria dos produtos europeus a partir de 1º de agosto, abrangendo automóveis, produtos farmacêuticos e semicondutores. Alguns itens — aeronaves, equipamentos para fabricação de chips, determinadas commodities agrícolas e certos produtos químicos — ficarão totalmente isentos.
Entendimento ainda não é tratado formal
Apesar dos números robustos, o pacto não foi convertido em tratado. Trata-se de um compromisso político que ainda precisa ser redigido e detalhado pelas equipes técnicas. A Casa Branca sustenta que os US$ 600 bilhões constituem “dinheiro novo”, além dos mais de US$ 100 bilhões que empresas do bloco já aplicam anualmente nos EUA. Bruxelas, por sua vez, fala apenas em “interesse manifestado” por companhias privadas em investir até 2029.
Como os alvos dependem de decisões corporativas, não há mecanismo que obrigue empresas da UE a comprar o volume previsto de combustíveis norte-americanos ou a direcionar o montante acordado para infraestrutura nos Estados Unidos. A aplicação de eventuais sanções ficará a critério da avaliação do próprio Trump sobre o avanço das metas.
Alívio parcial para tensões comerciais
O teto de 15% traz previsibilidade, mas mantém certa proteção. Produtos sensíveis, como aço e alumínio, serão submetidos a cotas tarifárias: volumes pré-definidos entram com tarifas menores e quantidades excedentes pagam alíquotas superiores.
A medida evita, por ora, a ameaça de tarifas de 25% a 30% sobre veículos europeus, possibilidade que pressionava especialmente a indústria alemã. O prazo até 2028-2029 também dá margem para que futuras administrações renegociem pontos mais onerosos.
Metas consideradas difíceis de cumprir
Em 2024, o déficit comercial de bens dos EUA com a UE foi de US$ 236 bilhões, dentro de um fluxo bilateral de US$ 976 bilhões. Para transformar esse cenário em superávit, Washington quer ampliar as exportações de combustíveis fósseis e tecnologia nuclear.
No ano passado, o bloco europeu importou 51 bilhões de metros cúbicos (bcm) de GNL norte-americano, avaliados em US$ 12,2 bilhões (preço médio de US$ 6,59 por milhão de BTU). Elevar esse valor para cerca de US$ 250 bilhões anuais exigiria multiplicar por mais de 20 vezes o volume comprado — algo inviável com a infraestrutura atual, que opera próxima da capacidade.

Imagem: Jonathan Raa/NurPhoto via forbes.com
O objetivo de US$ 600 bilhões em investimentos também ultrapassa os € 498 bilhões (US$ 540 bilhões) que a UE destinou em 2023 a setores prioritários como clima, energia, transporte e tecnologia limpa.
Razões europeias
Bruxelas vê no acordo três vantagens principais: garantia de fornecimento de energia após o afastamento da Rússia, prevenção de uma guerra comercial com os EUA e um “seguro” geopolítico em meio às incertezas globais. Países como Polônia, Bulgária, Romênia e República Tcheca já analisam a adoção de reatores norte-americanos, do modelo AP1000 a pequenos reatores modulares (SMR), o que exigirá combustível hoje fornecido em grande parte por Moscou.
A política de “dominação energética” defendida por Trump prioriza combustíveis fósseis e tecnologia nuclear, deixando em segundo plano fontes renováveis. Para a UE, o pacto oferece previsibilidade tarifária e um fornecedor confiável de energia em um período de transição.
A implementação efetiva dependerá da assinatura de documentos vinculantes e da expansão de terminais de GNL nos EUA e na Europa. Até lá, os valores bilionários servem mais como sinal político de alinhamento do que como metas realistas de curto prazo.
Com informações de Forbes