O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou no domingo (27) que entrará em vigor na próxima sexta-feira (1º) a nova tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Enquanto União Europeia, Reino Unido, Japão, Indonésia, Vietnã e Filipinas firmaram acordos para reduzir a taxação, o Brasil ainda não conseguiu abrir uma mesa de negociação com Washington.
Desde abril, as mercadorias brasileiras já pagam 10% de imposto ao desembarcar nos EUA. O aumento foi anunciado em 9 de julho, com Trump citando déficit comercial norte-americano em relação ao Brasil e o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como justificativas.
Sete movimentos que dificultam o diálogo
1. Retaliação antes da negociação
Em 10 de julho, em entrevista à TV Record, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que aplicaria tarifa idêntica aos produtos norte-americanos: “Se ele cobrar 50% de nós, vamos cobrar 50% deles”.
2. Contato fracassado com o Tesouro dos EUA
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, procurou o secretário do Tesouro, Scott Bessent, mas foi informado de que o tema está sob análise da Casa Branca.
3. Resistência a conversas formais
Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, tenta negociar diariamente, segundo Lula, mas não obtém retorno. Autoridades americanas relataram à imprensa que não viram propostas concretas do Brasil.
4. Anúncio de recurso à OMC
O governo pretende contestar a tarifa junto à Organização Mundial do Comércio. Especialistas da Fundação Getulio Vargas avaliam, porém, que o órgão perdeu eficácia após sucessivas contestações dos EUA à nomeação de árbitros.
5. Discurso sobre taxação de big techs
Em pronunciamento em 17 de julho, Lula defendeu cobrar impostos de grandes empresas de tecnologia norte-americanas. No dia 22, o Ministério da Fazenda negou que haja proposta formal em estudo.

Imagem: André Borges via gazetadopovo.com.br
6. Mobilização digital em vez de missão oficial
Integrantes do governo priorizaram publicações em redes sociais sobre o tarifaço. Críticos, como o governador do Paraná, Ratinho Júnior, apontaram ausência de uma comitiva em Washington para negociar.
7. Divergência interna sobre minerais críticos
Na quinta-feira (24), Lula afirmou em Minas Gerais que “ninguém põe a mão” nos recursos minerais brasileiros. Horas depois, Alckmin disse que a pauta com os EUA pode incluir lítio, nióbio e terras raras para tentar reverter as tarifas.
Efeitos econômicos e planos de contingência
Setores empresariais estimam perda de até US$ 23 bilhões até 2026 se não houver acordo. Consultorias como Tendências e BTG Pactual alertam que eventual retaliação brasileira poderia elevar as tarifas a 100%, ampliando impacto sobre inflação, atividade e trajetória de juros.
Haddad informou possuir um plano de compensação, com créditos subsidiados e fundos específicos, classificado como despesa extraordinária para não afetar a meta fiscal. Especialistas veem risco de aumento da dívida pública e queda de produtividade caso as medidas se tornem permanentes.
Com informações de Gazeta do Povo