27 de julho de 2025 — Bombardeios e ações militares da Rússia contra instalações nucleares na Ucrânia podem indicar o tipo de tática que Moscou usaria em um eventual confronto direto com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), avalia o pesquisador britânico Simon Bennett, da Universidade de Leicester.
Bennett, autor do livro “Atomic Blackmail? The Weaponization of Nuclear Facilities During the Russia-Ukraine War”, lembra que tropas russas ocuparam a usina de Zaporizhzhia em 4 de março de 2022 — a primeira vez na história que um complexo atômico de alto risco foi tomado por força armada. Desde então, segundo ele, militares instalaram explosivos e equipamentos no local, mantendo a planta sob ameaça permanente.
O acadêmico afirma que o presidente Vladimir Putin poderia transformar Zaporizhzhia em uma “bomba suja” de proporções inéditas caso visse seu exército prestes a ser derrotado. Mines colocadas ao redor dos seis reatores poderiam ser detonadas remotamente, gerando nuvens radioativas capazes de atravessar a Europa, explica Bennett.
Riscos reconhecidos por agências norte-americanas
Um relatório conjunto do Departamento de Energia dos Estados Unidos e da Administração Nacional de Segurança Nuclear, que monitora Zaporizhzhia à distância, confirma a presença de minas e tropas russas na usina. O documento ressalta que alguns artefatos já explodiram — em ao menos um caso, acionados por animais — e classifica a situação como uma ameaça à segurança dos trabalhadores ucranianos e da região.
IAEA relata ataques adicionais
Em 14 de fevereiro, Dia dos Namorados, a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, na sigla em inglês) registrou um ataque de drone que provocou incêndio no edifício que cobre os restos do reator destruído em Chernobyl, acidente de 1986. O diretor-geral Rafael Mariano Grossi informou que não houve liberação de radiação, mas alertou para “riscos persistentes” enquanto o conflito continuar.
Equipes da IAEA posicionadas em Zaporizhzhia relataram ouvir centenas de disparos de armas leves durante a noite em meio a uma escalada de ataques de drones às usinas nucleares ucranianas.
Possíveis consequências para a própria Rússia
Bennett ressalta que, caso Zaporizhzhia ou outra usina ucraniana seja sabotada, ventos dominantes poderiam levar o material radioativo até o território russo. Ainda assim, o pesquisador teme que, se encurralado, Putin repita a lógica da “ordem Nero” de Adolf Hitler em 1945, destruindo instalações estratégicas em ato final de retaliação.

Imagem: invading via forbes.com
Previsão de expansão do conflito
O especialista argumenta que o Kremlin prepara o terreno para um confronto com o Ocidente desde 2014, e pode recorrer a células adormecidas (“sleepers”) para sabotar infraestruturas críticas em países da OTAN, como usinas nucleares, aeroportos e redes de comunicação. A possibilidade de sabotagem interna, afirma, é favorecida pela maior abertura das democracias ocidentais.
A preocupação ecoa advertência recente do secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, que vê risco de a Rússia atacar um Estado-membro entre três e sete anos. Para Bennett, um conflito em grande escala poderia eclodir dentro de uma década, potencializado por agentes infiltrados que visariam serviços de emergência e contratantes de defesa.
Elena Grossfeld, pesquisadora do King’s College London especializada em inteligência russa, acrescenta que Moscou mantém uma rede difícil de dimensionar, composta tanto por “ilegais” — espiões com identidade falsa — quanto por estrangeiros recrutados por meio de suborno. Segundo ela, a destruição de uma usina nuclear se encaixa na doutrina russa de negar território ao adversário e cria vantagem militar imediata.
Com informações de Forbes