São Paulo – Perfis que simulam cenas do período pré-internet com auxílio de inteligência artificial acumulam milhões de visualizações e novos seguidores em plataformas como TikTok, Instagram e X. Criadores utilizam ferramentas de geração de imagem, edição de vídeo e ajustes manuais para recriar verões dos anos 80, 90 e 2000 — e, ao mesmo tempo, lucrar com a saudade coletiva desses tempos.
Quem produz o que
O usuário Nostalgia Cat publicou no TikTok um clipe ambientado no verão de 2000 em que um jovem de cabelo espetado descreve noites em volta da fogueira “sem mensagens diretas ou conversas online”. Tudo nele, do interlocutor aos cenários, foi desenvolvido por IA.
No Instagram, a conta Purest Nostalgia, administrada pelo britânico Josh Crowe (29 anos), soma mais de 775 mil seguidores. Crowe afirma ganhar cerca de 115 mil novos seguidores por mês, ritmo que transformou o hobby em oportunidade de negócios; ele prepara uma loja virtual e um livro.
Outro exemplo é Maximal Nostalgia, de Tavaius Dawson (26 anos), que ultrapassou 800 mil seguidores no Instagram e 250 mil no TikTok. Um de seus vídeos sobre os anos 80 foi visto 27 milhões de vezes no X.
O alemão Gunnar Zyl (37 anos) criou a página Nostalgia Voyages em 2024. Ele utiliza Midjourney e editores como CapCut para produzir slideshows que reproduzem texturas de Polaroid, VHS e filme 35 mm, reunindo 62 mil seguidores.
Como a estética é criada
Os produtores combinam ferramentas como Midjourney, DaVinci Resolve, Photoshop e CapCut. Imagens de referência são restauradas, reestilizadas e reajustadas para corrigir falhas típicas, como dedos extras. Embora veículos errados ou ruas impossíveis apareçam ocasionalmente, o resultado costuma convencer quem nunca viveu a época retratada.
Reações e críticas
Nos comentários, usuários relatam saudade dos celulares flip, da Blockbuster e de bandas como NSync. Entre os que interagem, o rapper Vanilla Ice (Robert Van Winkle, 57 anos) declarou que “os computadores arruinaram o mundo”, reforçando essa opinião em entrevista posterior.

Imagem: Internet
Especialistas apontam receios sobre a disseminação de um passado idealizado. O advogado norte-americano Richard Hoeg disse por e-mail que se sente impactado emocionalmente por versões “irreais” dos anos 80. Já a pesquisadora Krystine Batcho observa, em estudos, que jovens recorrem cada vez mais à nostalgia em períodos de incerteza.
Negócio da saudade
Dawson recebe mensagens de seguidores em países em guerra que agradecem pelo “alívio” diante de realidades duras. Ele trabalha com um produtor de Hollywood em um filme ambientado nos anos 90. Crowe, por sua vez, diz concentrar-se em “vibrações positivas”, enquanto Zyl busca replicar “imperfeições da mídia analógica” para aumentar a autenticidade.
A popularidade crescente mostra que, em pleno 2024, a tecnologia responsável por deepfakes e distorções de realidade também impulsiona lembranças de uma era em que, ironicamente, a internet ainda engatinhava.
Com informações de InfoMoney