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Tarifaço dos EUA derruba confiança empresarial e faz brasileiro adiar compras

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A confiança do empresariado brasileiro sofreu queda brusca em agosto e alcançou o menor nível desde março de 2021, auge da pandemia. O recuo foi puxado pelas tarifas adicionais de 40% aplicadas pelos Estados Unidos sobre produtos do Brasil em 30 de julho, medida que atingiu cerca de 55% do valor total exportado para o mercado norte-americano.

Indicadores em queda

O índice de confiança empresarial do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) caiu pelo terceiro mês consecutivo e mostrou deterioração em 78% dos 49 segmentos pesquisados nos setores de indústria, serviços, comércio e construção.

Na indústria exportadora, o impacto foi ainda mais intenso. Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelam que o indicador de confiança dessas empresas recuou 9,2% entre junho e agosto, passando do otimismo ao forte pessimismo. O indicador de intenção de investir caiu ao menor patamar desde outubro de 2023, enquanto as expectativas de emprego na indústria registraram o pior resultado desde junho de 2020.

Efeito imediato nas exportações

Agosto, primeiro mês de vigência das novas tarifas, registrou queda de 18,5% nas exportações para os EUA em comparação a agosto de 2024, totalizando US$ 2,6 bilhões — o menor valor para o período desde a pandemia. Entre os itens mais afetados estão:

  • Aeronaves e partes: −93%
  • Turbogeradores e turbinas a gás: −60,9%
  • Óleos essenciais: −52,25%
  • Madeira perfilada: −48,5%
  • Carne bovina congelada: −47,69%

Além da perda direta de mercado, cresce o temor de desvio de comércio, com produtos antes destinados aos EUA sendo redirecionados ao mercado interno, elevando a concorrência doméstica.

Projeções de perdas no PIB e no emprego

Um estudo da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) calcula que, em cinco a dez anos, o PIB brasileiro pode encolher R$ 110 bilhões e 618 mil postos de trabalho podem ser extintos. Pesquisa do Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental Aplicada (Nemea) da UFMG projeta redução de R$ 31 bilhões no PIB em dois anos e eliminação de 188,7 mil empregos, além de perda líquida de US$ 4,2 bilhões em exportações.

Os segmentos mais vulneráveis são metais ferrosos (aço), produtos químicos e madeira, intensivos em mão de obra e integrados a cadeias globais. São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul concentram as maiores perdas absolutas.

Estados mais expostos

Levantamento do FGV Ibre aponta Ceará, Alagoas e Paraíba como as unidades federativas relativamente mais dependentes do mercado norte-americano. No Ceará, 44,9% das vendas externas vão para os EUA, sendo 98,6% fora da lista de exceções do tarifaço. Em sentido oposto, Maranhão, Pará, Mato Grosso do Sul e São Paulo tendem a sofrer menos graças à maior diversificação ou ao maior peso de produtos isentos.

Selic alta agrava retração do consumo

Com a taxa Selic em 15% ao ano, o crédito encarece e o consumo também sente os efeitos. A CNI reduziu a projeção de crescimento da indústria para 1,7% em 2025, enquanto o avanço do consumo das famílias deve desacelerar para 2,3%, ante 4,8% em 2024.

Pesquisa da HSR Specialist Researchers mostra que 54% dos consumidores percebem impacto das tarifas dos EUA no orçamento doméstico, sobretudo nos preços de alimentos, combustíveis e medicamentos. A CEO da Shopper Experience, Valéria Rodrigues, observa que esse encarecimento afeta diretamente o poder de compra, levando ao adiamento de compras e ao corte de gastos.

O FGV Ibre registra ainda três meses seguidos de piora na avaliação da situação econômica das famílias, refletindo altos níveis de endividamento e inadimplência, segundo a economista Anna Carolina Gouveia.

Para Stéfano Pacini, economista do FGV Ibre, a combinação de juros elevados e incertezas geradas pelas novas tarifas forma um cenário duplamente desfavorável: o mercado interno enfraquecido não absorve a produção, enquanto o externo se fecha abruptamente.

Embora parte dos produtos agrícolas possa se beneficiar de desvios de comércio, os estudos apontam saldo negativo para a economia brasileira, evidenciando a extensão dos efeitos do tarifaço sobre empresas, empregos e renda.

Com informações de Gazeta do Povo

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