Brasília — A ruptura de partidos do Centrão com o governo e a entrada do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), nas negociações pela votação de um projeto de anistia passaram a comprometer a capacidade do Palácio do Planalto de aprovar pautas consideradas prioritárias.
A primeira demonstração de fragilidade ocorreu na semana passada, quando senadores do União Brasil e do Progressistas (PP) votaram contra a PEC dos Precatórios, que autoriza gasto adicional de R$ 12,4 bilhões em 2026. A proposta foi aprovada no limite, sinalizando dificuldade para o Executivo reunir maioria sem o apoio dessas siglas.
Partidos cobram cargos e miram 2026
As direções de União Brasil e PP determinaram que filiados deixem cargos federais até o fim de setembro. Paralelamente, as legendas procuram consolidar, ainda em 2025, a pré-candidatura de Tarcísio ao Palácio do Planalto em 2026. Nos bastidores, os presidentes do PP, senador Ciro Nogueira (PI), e do União Brasil, Antônio Rueda, aguardam o aval do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para respaldar o governador paulista.
Isenção do IR como aposta de popularidade
A isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil é a principal cartada de Lula para tentar recuperar apoio popular. O governo tentou votar o texto nas duas últimas semanas, mas a pauta foi esvaziada em razão do julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF). Mesmo assim, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), afirmou na segunda-feira (8) que pretende levar a proposta ao plenário.
Para o cientista político Lucas Fernandes, ainda existe espaço para que parlamentares de União e PP apoiem projetos específicos, mas em “condições mais caras e instáveis”. Ele aponta a necessidade de o Planalto reforçar alianças com PSD e MDB e negociar caso a caso com Republicanos.
Anistia ganha força com apoio de Tarcísio
Tarcísio esteve em Brasília na semana passada para pressionar pela votação da anistia. Segundo o deputado Luciano Zucco (PL-RS), líder da oposição, o texto teria “mais de 300 votos” favoráveis, contando, além do PL, com Novo, PP, União Brasil, Republicanos e parte de PSD e MDB. Hugo Motta, porém, afirmou na terça-feira (9) que ainda não há data nem relator definidos para a matéria.
Reação do governo
Na segunda-feira, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, reuniu ministros de PSD, MDB, União Brasil, PSB e PCdoB. Ela pediu empenho para aprovar a isenção do IR, a MP do Gás do Povo, a PEC da Segurança e a MP que reduz a conta de energia, além de barrar o avanço da anistia.

Imagem: Wesley Oliveira Guilherme Grandi
Clima eleitoral antecipado
Apesar de Tarcísio afirmar que disputará a reeleição em São Paulo, Lula passou a tratá-lo como principal adversário em 2026. O presidente disse, em 26 de agosto, esperar enfrentá-lo na próxima disputa. Em resposta, Tarcísio declarou que “não perde um minuto” com críticas alheias.
O governador também elevou o tom contra o Planalto durante evento bancário em agosto, ao dizer que “o Brasil não aguenta mais excesso de gasto, aumento de imposto, corrupção, PT e Lula”. O pronunciamento contou com o apoio de governadores aliados, entre eles Ronaldo Caiado (GO), Ratinho Jr. (PR) e Eduardo Leite (RS).
Se confirmado candidato ao Planalto, Tarcísio terá de renunciar ao Executivo paulista até abril de 2026, prazo final para desincompatibilização.
Com informações de Gazeta do Povo