Brasília — Durante audiência pública da Comissão de Segurança do Senado nesta terça-feira (2), o ex-assessor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Eduardo Tagliaferro acusou o ministro Alexandre de Moraes e o procurador-geral da República, Paulo Gonet, de escolher previamente os alvos de investigações eleitorais.
Segundo o depoente, Moraes repassava pedidos de relatórios e listas de investigados para Gonet por meio de mensagens que ele próprio, Tagliaferro, trocava com o chefe da Procuradoria-Geral da República e com o assessor dele, identificado como Lucas. “O processo foi ao contrário: primeiro se decidia quem seriam os investigados, depois se montava o caminho processual”, afirmou.
“Pacotinhos” de nomes
Tagliaferro relatou que cabia a ele organizar listagens de 100 ou 200 nomes, apelidadas de “pacotinhos”, destinadas posteriormente aos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs). O ex-assessor exibiu no celular conversas de WhatsApp que, segundo ele, comprovam o contato direto com Gonet a mando do ministro do Supremo.
Ele ainda declarou que recebeu ordem para elaborar documentos com datas retroativas a fim de justificar operações baseadas em reportagens jornalísticas.
Reações no colegiado
As alegações provocaram reação imediata entre parlamentares. O presidente da comissão, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), apontou que os pedidos não passavam pelo Ministério Público nem pela Polícia Federal. Senadores Marcos Rogério (PL-RO), Caroline de Toni (PL-SC) e Marcel van Hattem (Novo-RS) classificaram o relato como “gravíssimo” e falaram em perseguição a empresários e políticos.
A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) solicitou a suspensão do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), enquanto o senador Eduardo Girão (Novo-CE) defendeu levar o caso a organismos internacionais. O ex-deputado Deltan Dallagnol chamou o episódio de “fraude processual gravíssima”.

Imagem: Saulo Cruz
Medidas anunciadas
No encerramento da sessão, Flávio Bolsonaro informou que a comissão produzirá relatório com as denúncias para encaminhar ao STF, ao TSE e ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Cópias também serão enviadas às defesas de pessoas presas nos processos citados e a organismos internacionais. O senador anunciou ainda pedido de proteção ao depoente junto ao governo da Itália.
Posicionamentos
A Procuradoria-Geral da República foi procurada, mas não se manifestou até a última atualização. Em nota, o gabinete do ministro Alexandre de Moraes declarou que todos os procedimentos sobre milícias digitais e desinformação foram “oficiais, regulares e documentados”, seguindo normas regimentais, com relatórios encaminhados à Polícia Federal e à PGR.
Com informações de Gazeta do Povo