Moscou, 7 de agosto de 2025 – Sob intensa pressão internacional para aceitar um cessar-fogo, o presidente russo Vladimir Putin mantém a ofensiva na Ucrânia mesmo após perdas estimadas em cerca de um milhão de soldados desde o início do conflito.
O enviado do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Steve Witkoff, esteve em Moscou nesta semana para tentar aumentar a pressão diplomática por um acordo. A avaliação é que Putin poderia aceitar suspender a troca de ataques com drones contra instalações de petróleo e gás russas, mas não interromperia o combate terrestre.
Avanços lentos e custos elevados
Relatórios militares indicam que a Rússia avança em ritmo reduzido e com grandes perdas. Em junho, as forças russas conquistaram aproximadamente 190 milhas quadradas – menos de 0,1% do território ucraniano. Segundo o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), cada milha quadrada tomada em 2024 custou cerca de 150 baixas russas; em meados de 2025, o número subiu para 432.
Operações com blindados tornaram-se raras devido à vigilância constante de drones. Os ataques russos agora dependem de pequenos grupos de infantaria, muitas vezes com apenas dois ou três soldados, que tentam infiltrar-se nas linhas ucranianas a pé, em motocicletas ou buggies. Taxas de baixas superiores a 80% em unidades de assalto são consideradas comuns.
Mesmo assim, o Exército russo continua lançando ondas sucessivas de tropas. Sobreviventes feridos são, segundo relatos, reenviados ao front, às vezes usando muletas. Especialistas técnicos e outros militares também estão sendo deslocados para batalhões de assalto. Em 2024, toda a tripulação do único porta-aviões russo, o Admiral Kuznetsov, foi reorganizada como infantaria naval e enviada ao setor de Pokrovsk.
Estratégia baseada em “sacrifício”
Analistas afirmam que, para Putin, as perdas humanas não pesam tanto quanto a conquista gradual de território. A propaganda oficial destaca a ideia de sacrifício em defesa da pátria, um discurso reforçado por referências à Segunda Guerra Mundial, na qual a União Soviética perdeu mais de 20 milhões de cidadãos.
Em 2022, durante uma reunião televisionada, Putin disse a uma mãe de soldado morto que o filho “cumpriu seu propósito”. Episódios como esse ajudam a conter protestos internos mesmo diante das elevadas baixas.

Imagem: forbes.com
Quem vai para a linha de frente
A maioria dos combatentes nas frentes de ataque não são conscritos (conhecidos como mobiks), mas soldados contratados (kontraktniki) que assinam contratos temporários. Enquanto os mobiks compõem cerca de 25% do efetivo e permanecem na retaguarda, os kontraktniki recebem pagamentos considerados altos para padrões locais: algumas regiões oferecem 1 milhão de rublos (cerca de US$ 12 mil) e o governo federal adiciona 400 mil rublos (aproximadamente US$ 5 mil). Em regiões pobres, onde o salário médio é de 35 mil rublos mensais (US$ 400), o alistamento é visto como oportunidade financeira e gesto patriótico.
Recrutadores visitam inclusive abrigos para sem-teto, ignorando problemas mentais, dependência química ou histórico criminal. No passado, milhares de detentos e mercenários do grupo Wagner foram usados nas missões mais arriscadas; atualmente, Moscou também conta com combatentes norte-coreanos. No total, a Rússia estaria recrutando – e perdendo – cerca de 30 mil soldados por mês, número que um país de 140 milhões de habitantes ainda consegue repor.
Perspectiva de Putin
Para o Kremlin, cada dia de combate amplia a área controlada antes de um eventual cessar-fogo, que poderia congelar as linhas atuais. Especialistas apontam três fatores capazes de alterar essa dinâmica: um colapso econômico mais rápido na Rússia, maior volume de ajuda militar à Ucrânia ou uma contra-ofensiva ucraniana bem-sucedida. Até lá, a expectativa é de que o conflito continue consumindo vidas em ritmo elevado.
Com informações de Forbes