Brasília, 6 de agosto de 2025 – A entrada em vigor das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre uma ampla gama de produtos brasileiros pressiona setores inteiros da economia nacional e expõe a morosidade da resposta oficial.
Impacto imediato do tarifaço
As sobretaxas foram anunciadas pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump, que atribuiu a medida a “políticas, práticas e ações recentes” do Brasil consideradas ameaças à segurança e à economia dos EUA. A Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) projeta queda de R$ 25,8 bilhões no Produto Interno Bruto e corte de 146 mil postos de trabalho no curto prazo.
Na prática, a carne bovina brasileira passou a chegar aos supermercados norte-americanos 74% mais cara do que a concorrência local. A Casa Branca, contudo, excluiu quase 700 itens – entre eles derivados de petróleo – para proteger cadeias produtivas internas.
Reação brasileira e divergências políticas
A Câmara de Comércio Exterior (Camex) autorizou consulta à Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre a legalidade das tarifas, mas o processo depende de despacho presidencial e pode arrastar-se por anos. Paralelamente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, negocia com Washington o fornecimento de terras raras em troca de investimentos em componentes tecnológicos.
Haddad prepara um plano de contingência com crédito subsidiado e proteção ao emprego e cobrou apoio de governadores de oposição e empresários, acusando a “extrema direita” de favorecer interesses norte-americanos. Críticos afirmam que o Palácio do Planalto demorou a agir.
Ameaça de desligamento do Swift
Especialistas não descartam a possibilidade de o Brasil ser excluído do sistema global de pagamentos Swift – medida que paralisaria o comércio exterior e estimularia fuga de capitais. A rede, criada em 1973, conecta mais de 11,5 mil instituições financeiras. Rússia e Irã já foram alvo da mesma sanção.
Como alternativa, a China oferece o CIPS, rede na qual o Banco Master já opera, apontando um caminho para reduzir a dependência do dólar.
Política monetária em compasso de espera
O Banco Central manteve a Selic em 15% na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada. A ata cita “maior incerteza no cenário externo” e destaca a necessidade de conjugar política fiscal e monetária para impedir alta da taxa neutra. A inflação continua acima da meta de 3%, e o mercado de trabalho aquecido sustenta postura contracionista prolongada.

Imagem: criada utilizando Google IA via gazetadopovo.com.br
Investimentos bilionários
Apesar do ambiente desfavorável, empresas anunciaram aportes robustos no país. O iFood destinará R$ 17 bilhões entre abril de 2025 e março de 2026 para ampliar tráfego, expandir segmentos e desenvolver inteligência artificial, em disputa direta com concorrentes chineses como Meituan e 99Food.
A Volkswagen investirá R$ 16 bilhões no Brasil até 2028 – parte de um pacote de R$ 20 bilhões para a América do Sul – com foco em eletrificação e no recém-lançado SUV Tera, concebido integralmente no país.
Frase em destaque: “O discurso político e as ações inócuas apenas agravam a perda de competitividade e o risco de redução de mercados, investimentos e empregos”, afirma Luís Garcia, sócio do Tax Group e do MDL Advogados.
As medidas de Washington, a demora na reação interna e a cautela do Banco Central compõem um cenário de alta incerteza, enquanto aportes privados sinalizam resiliência em meio à turbulência.
Com informações de Gazeta do Povo