Brasília – O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), enfrentou novo embate com parlamentares da oposição na noite desta quarta-feira (6) ao tentar abrir sessão presencial em meio ao segundo dia de protestos contra a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Motta chegou ao plenário por volta das 20h30, mas encontrou o espaço ocupado por deputados da direita, que bloquearam o início dos trabalhos. A roda de negociação incluiu ameaça de suspensão dos manifestantes e eventual chamada da Polícia Legislativa para desocupar o local. A imprensa foi barrada inicialmente, sendo liberada somente às 22h.
Pautas exigidas pela oposição
O grupo que mantém a ocupação na Câmara e no Senado condiciona o fim da obstrução à inclusão de três temas na pauta: anistia aos presos de 8 de janeiro de 2023, PEC que extingue o foro privilegiado e pedido de impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Desde terça-feira (5), sessões de votação vêm sendo canceladas.
O PL, partido de Bolsonaro, lidera o movimento com seus 87 deputados e 14 senadores, contando ainda com apoio do Novo. União Brasil e Progressistas orientaram suas bancadas a não registrar presença, reforçando a estratégia de obstrução.
Manobras nas duas Casas
No Senado, o presidente Davi Alcolumbre (União-AP) marcou sessão virtual para esta quinta-feira (7), buscando esvaziar o ato físico. Três senadores – Magno Malta (PL-ES), Izalci Lucas (PL-DF) e Damares Alves (Republicanos-DF) – acorrentaram-se à mesa diretora, enquanto outros recolhem assinaturas para protocolar o impeachment de Moraes. Segundo o senador Carlos Portinho (PL-RJ), 40 apoios já foram obtidos; é preciso 41 para admitir o processo.
Alcolumbre declarou que não cederá a “chantagens” e que o Parlamento “não será refém” de pressões. Ele convocou líderes partidários para reunião na residência oficial, mas a oposição enviou apenas o líder Rogério Marinho (PL-RN) e reiterou a exigência de encontro reservado.
Reação governista e tensão no plenário
Na Câmara, deputadas da oposição permaneceram no plenário para evitar confronto com a Polícia Legislativa. A deputada Júlia Zanatta (PL-SC) levou a filha de quatro meses ao local; assessores do PT acionaram o Conselho Tutelar, segundo o líder petista Lindbergh Farias (RJ).

Imagem: José Cruz via gazetadopovo.com.br
Enquanto isso, Motta manteve reunião fechada com representantes do PL – Sóstenes Cavalcante (líder), Luciano Zucco (líder da oposição) e Caroline de Toni (líder da minoria). Ele sinalizou que abriria a sessão mesmo com o plenário tomado. Em resposta, Sóstenes orientou a bancada a reforçar a ocupação também no auditório Nereu Ramos, ponto cogitado para eventual sessão alternativa.
“Não recuaremos sem garantia de votação da anistia”, disse Zucco. Para Cavalcante, o movimento seguirá “sem Dia dos Pais nem fim de semana” até que haja compromisso formal de Motta e Alcolumbre.
Partidos buscam ampliar bloco
O PL tenta atrair Republicanos e PSD à obstrução. “Precisamos medir o tamanho da mobilização”, afirmou Sóstenes. Em nota conjunta, os presidentes do União Brasil, Antônio de Rueda, e do PP, Ciro Nogueira, defenderam “diálogo como único caminho” para restaurar a normalidade dos trabalhos legislativos.
Sem acordo até o fim da noite, Câmara e Senado permaneciam paralisados, com sessões presenciais suspensas e perspectivas incertas para a pauta desta quinta-feira.
Com informações de Gazeta do Povo