A onda de manifestações contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e críticas crescentes à Corte têm levado especialistas a apontar o surgimento de um sentimento de rejeição capaz de ultrapassar o bolsonarismo e se espalhar por diferentes segmentos da sociedade, de modo semelhante ao antipetismo consolidado nas últimas décadas.
Prisões e sanções como estopim
A prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, determinada por Moraes em 4 de agosto, funcionou como gatilho para novos protestos. No dia anterior, milhares de pessoas já haviam se reunido em avenidas da capital paulista, do Rio de Janeiro, de Brasília e de Belo Horizonte com faixas pedindo limites à atuação do STF e cobrando ação do Senado.
Outro fator que ampliou o descontentamento foi a inclusão do ministro na lista de sanções da Lei Global Magnitsky pelos Estados Unidos, acusação que o Departamento do Tesouro classificou como “caça às bruxas ilegal” contra cidadãos e empresas brasileiras e americanas.
Mobilização nas ruas e nas redes
Em Brasília, carreatas e buzinaços mantiveram a mobilização nos dias 5 e 6 de agosto. Para Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do Partido Liberal na Câmara, “o povo perdeu o medo” de protestar contra Moraes. Coordenador do movimento “Influenciadores do Brasil”, Deusélis Braga afirma que o buzinaço é apenas o início de novas ações nacionais.
Cenário político no Congresso
Parlamentares contrários ao ministro tentam reunir assinaturas para um processo de impeachment, mas admitem dificuldade para alcançar os 54 votos necessários no plenário do Senado. O senador Ciro Nogueira (PP-PI) avalia que a correlação de forças atuais dificulta o avanço da proposta, embora 40 senadores já tenham declarado apoio à abertura do processo.
Pesquisas mostram avanço da desaprovação
Levantamento do DataFolha, realizado em 29 e 30 de julho com 2.004 entrevistados, indica que 36 % consideram o desempenho do STF ruim ou péssimo, ante 29 % que o aprovam. Em março de 2024, a reprovação era de 28 %. Outra pesquisa do instituto, feita em 10 e 11 de junho, apontou que 58 % sentem “mais vergonha do que orgulho” dos ministros, enquanto 30 % relatam o sentimento oposto.
Imagem: Ton Molina via gazetadopovo.com.br
Analistas apontam efeito “antipoder judicial”
Para Juan Carlos Arruda, cientista político e CEO do Ranking dos Políticos, a insatisfação com o Supremo “já toca setores liberais, conservadores moderados e eleitores de centro”. O também cientista político Elton Gomes avalia que o STF “se imiscui em assuntos políticos”, o que elevaria o desgaste institucional. Adriano Cerqueira, do Ibmec-BH, observa que, mesmo sem a presença de Bolsonaro, o ex-presidente continua como figura de referência nos atos.
Especialistas alertam que, se consolidado, o sentimento “qualquer coisa menos o STF”, ou “fora Moraes”, pode se transformar em força eleitoral de alcance nacional, seguindo trajetória parecida à rejeição ao PT, que influenciou o impeachment de Dilma Rousseff e a eleição de Jair Bolsonaro em 2018.
Com informações de Gazeta do Povo
