Brasília — O ex-secretário do Departamento de Estado norte-americano Mike Benz declarou, nesta quarta-feira (6), em audiência pública na Câmara dos Deputados, que a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) interferiu nas eleições brasileiras de 2022 e advertiu o governo Jair Bolsonaro a não questionar o resultado das urnas eletrônicas.
Benz, que integrou a primeira administração de Donald Trump, sustentou que a atuação norte-americana ocorreu por intermédio da Usaid (Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional). Segundo ele, o órgão destinou recursos a organizações brasileiras para, entre 2019 e 2022, “promover censura contra o campo direitista” e limitar a comunicação de opositores.
Durante a oitiva, o ex-funcionário exibiu reportagens da imprensa dos EUA, documentos oficiais e um vídeo em que o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, comenta a parceria entre o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o WhatsApp nas últimas eleições. Benz afirmou que Barroso fazia a ponte com integrantes do National Endowment for Democracy (NED), entidade que, segundo ele, estaria sob influência do Partido Democrata.
O ex-secretário citou ainda o National Democratic Institute (NDI). De acordo com seu relato, a ONG teria “encoberto ações da CIA” menos de um mês após a vitória de Bolsonaro em outubro de 2018, ao atribuir à internet a responsabilidade pela ascensão do então candidato.
Financiamento a agências de checagem
Benz declarou que a Usaid financiou agências de verificação de fatos, movimentos e veículos de comunicação “para restringir vozes conservadoras”. Entre os beneficiários estariam a Agência Lupa, a Abrji e organizações integrantes do Projeto Comprova, classificadas por ele como “marionetes americanas”. Ele também mencionou supostas “aulas” sobre como censurar a internet brasileira.

Imagem: Renato Araújo via gazetadopovo.com.br
Procuradas anteriormente sobre acusações semelhantes, as agências negaram vínculo financeiro direto com a Usaid. Em nota divulgada em fevereiro, a Lupa disse ter recebido apenas repasses do ICFJ para projetos relacionados aos atos de 8 de janeiro. Já a Aos Fatos afirmou que as alegações de Benz “não se sustentam” e se baseiam em desinformação.
Reações no Congresso
Ao fim da audiência, o deputado Felipe Barros (PL-RJ) avaliou que as supostas ações do governo norte-americano representam “atentado à soberania” e defendeu a abertura de investigação parlamentar. As organizações citadas não se pronunciaram sobre as declarações desta quarta-feira.
Com informações de Gazeta do Povo