O plano do presidente norte-americano Donald Trump de impor sanções secundárias a nações que continuem negociando com a Rússia coloca o agronegócio brasileiro sob risco imediato. O Brasil compra da Rússia 26% dos fertilizantes que importa e depende do insumo para sustentar a produção agrícola.
Pressão de Washington
Trump busca cortar fontes de receita de Moscou a fim de forçar um cessar-fogo na guerra contra a Ucrânia. O prazo dado por Washington para um acordo expira na próxima sexta-feira, 8 de agosto. Caso não haja avanço, países que mantêm comércio com a Rússia podem ser alvo de tarifas mais altas. O quadro ganhou contornos práticos nesta terça-feira (5), quando Trump anunciou tarifas superiores a 25% sobre produtos indianos após Nova Délhi manter compras de petróleo russo.
O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, chegou a citar Brasil, Índia e China como prováveis alvos das medidas. “Pode ser muito prejudicial”, alertou Rutte em 15 de julho, durante encontro com senadores dos Estados Unidos.
Dependência brasileira
A Rússia responde por 84% do valor das importações brasileiras concentradas em dois grupos: fertilizantes (26% do total comprado pelo Brasil) e combustíveis (15%). Desde 2022, quando o conflito começou, o governo brasileiro lançou um plano para reduzir a fatia de importados no mercado interno de 85% para 45% até 2050. Entretanto, dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) indicam que a dependência permanece em 85%.
A produção nacional de fertilizantes intermediários recuou de 7,7 milhões de toneladas em 2022 para 6,9 milhões em 2023 (queda de 10%) e chegou a 7,2 milhões em 2024, ainda abaixo do nível pré-guerra.
Impacto estimado pelo mercado
Relatório do Itaú BBA prevê que uma interrupção nas compras de MAP, KCl e ureia russos elevaria “significativamente” o custo de produção agrícola. Analistas lembram que a substituição de fornecedores exigiria tempo e investimentos, além de negociações diplomáticas.
A pauta de exportações brasileiras também ficaria exposta: 27% do amendoim, 22% da ervilha e 11% do amido vendidos ao exterior têm a Rússia como destino.

Imagem: Yuri Gripas via gazetadopovo.com.br
Cadeia global em risco
Para o especialista Bruno Castro, da consultoria Argus, sanções contra países que compram adubos russos poderiam “quebrar” a cadeia mundial de fertilizantes. Em 2024, a Rússia forneceu ao Brasil 2,3 milhões de toneladas de fertilizantes fosfatados (27% das importações), 5,4 milhões de toneladas de potássio (38%) e 1,5 milhão de toneladas de ureia (18%). No primeiro semestre de 2025, a participação russa saltou para 54% no mercado de potássio e manteve 13% na ureia.
Lucas Costa Beber, presidente da Aprosoja-MT, afirma que novas restrições “inviabilizariam” a produção de soja e milho no estado. Já representantes da Frente Parlamentar da Agropecuária relataram ao Itamaraty preocupação com possíveis retaliações.
Se confirmadas, as sanções tendem a acirrar a competição global por fertilizantes, encarecendo ainda mais um insumo já limitado no mercado internacional.
Com informações de Gazeta do Povo