Brasília – As alíquotas de 50% definidas pelo governo de Donald Trump sobre importações originárias do Brasil passam a ser aplicadas nesta quarta-feira (6). Até o momento, a equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não anunciou medidas concretas para atenuar os efeitos do chamado “tarifaço”, divulgado em 9 de julho.
O percentual imposto aos bens brasileiros mais que dobra os tributos estabelecidos para Venezuela (15%) e Nicarágua (18%). Desde a notificação inicial, representantes da indústria e produtores rurais relatam encontros frequentes com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, mas sem resultados práticos.
Negociação emperrada
Fontes da administração norte-americana afirmam que o Planalto não apresentou propostas consideradas relevantes para a retirada ou redução das tarifas. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sinalizou a inclusão de terras raras na pauta de negociação, exigindo, porém, contrapartida em investimentos dos Estados Unidos no Brasil.
Exceções atenuam, mas não anulam impacto
No decreto que oficializou a medida, Trump listou quase 700 exceções. Segundo Alckmin, 65% das exportações brasileiras ficaram de fora da sobretaxa, enquanto estimativas privadas apontam cobertura entre 40% e 45% da pauta exportadora. O advogado Luiz García, do MDL Advogados, avalia que o alívio partiu exclusivamente de Washington e que o setor produtivo brasileiro segue sem apoio interno, como cortes de tributos ou programas de redução do chamado “custo Brasil”.
Efeitos já sentidos
A divulgação do tarifaço provocou saída líquida de R$ 6,3 bilhões da B3 em julho, o pior resultado para o mês em quatro anos. O Banco Central citou o risco das tarifas ao manter a taxa Selic em 15%, conforme ata divulgada na terça-feira (5).
Perdas projetadas
A Amcham Brasil calcula que, mesmo com as exceções, o prejuízo pode alcançar US$ 23,9 bilhões. O Bradesco revisou estimativa de impacto para US$ 9,4 bilhões, enquanto a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) projeta queda de 0,20% no PIB de 2025 e de 0,38% em 2026.

Imagem: YURI GRIPAS via gazetadopovo.com.br
Reação setorial
Empresas de carnes, armas de fogo e outros segmentos afetados adotam estratégias como demissões, férias coletivas e plano de transferir parte da produção para território americano. Estudo do Núcleo de Modelagem Econômica e Ambiental Aplicada (Nemea/UFMG) — elaborado antes da lista de exceções — previa até 110 mil cortes de empregos, sendo 40 mil na agropecuária, 31 mil no comércio e 26 mil na indústria.
Estados elaboram planos próprios
Diante da ausência de iniciativas federais, governos estaduais como Goiás, São Paulo e Minas Gerais preparam programas de contingência para apoiar companhias mais atingidas.
Alckmin declarou que o Executivo deve apresentar um plano emergencial “nos próximos dias”, incluindo crédito a empresas e uso de compras governamentais, mas não fixou data para divulgação.
Com informações de Gazeta do Povo