Brasília – A ordem de prisão domiciliar imposta ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na segunda-feira (4), aumentou a pressão sobre o magistrado no Congresso Nacional. Parlamentares da oposição afirmam que o episódio desencadeou uma “tempestade perfeita” capaz de viabilizar o impeachment do ministro.
Reação imediata
Aliados de Bolsonaro classificaram a decisão como “tirania judicial” e “absurdo jurídico” em redes sociais, entrevistas e manifestações públicas. Nos bastidores, porém, avaliam que o desgaste institucional gerado pela medida fortalece a articulação contra Moraes.
Fatores que compõem a crise
Segundo líderes oposicionistas, o cenário adverso para o ministro reúne:
- o impacto político da prisão de Bolsonaro;
- a frustração do governo Lula (PT) em conter o tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump;
- protestos populares revitalizados no domingo (3);
- temor de novas sanções norte-americanas contra autoridades brasileiras;
- vazamentos de mensagens que apontariam supostas arbitrariedades do gabinete de Moraes.
Movimentação no Congresso
Na retomada dos trabalhos legislativos, nesta terça-feira (5), deputados e senadores de vários partidos defenderam:
- votação de pedidos de impeachment de Moraes;
- anistia aos réus dos atos de 8 de janeiro;
- extinção do foro privilegiado.
Os oposicionistas prometem obstruir votações até que o chamado “pacote da pacificação” avance. Para pressionar, ocuparam simbolicamente, por tempo indeterminado, as mesas diretoras da Câmara e do Senado, cobrando posicionamento favorável dos presidentes Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP).
Hoje há mais de 30 pedidos de impeachment contra Moraes protocolados no Senado. Trinta e oito senadores já declararam apoio à abertura do processo; são necessários 41 para maioria simples. “Não há instituições, só tiranos de toga”, declarou o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ).
Pressão internacional
A oposição espera novas ações de Washington, como cancelamento de vistos de ministros do STF e familiares. Os Estados Unidos criticaram a prisão de Bolsonaro, acusaram Moraes de cercear a oposição e prometeram responsabilizar quem respaldar a medida. No setor financeiro, advogados avaliam risco de que sanções adicionais abalem serviços e a estabilidade econômica. A expectativa é que o secretário de Estado, Marco Rubio, anuncie em breve possíveis providências.

Imagem: Sílvio RibasBrasília via gazetadopovo.com.br
Isolamento político de Moraes
Com desgaste crescente, o ministro mantém apoio firme apenas do Palácio do Planalto, cuja relação com o Congresso enfrenta dificuldades e popularidade em queda. Antes da prisão de Bolsonaro, senadores já haviam reagido às punições impostas por Moraes ao senador Marcos do Val (Podemos-ES), exigindo que o plenário anulasse as decisões.
Análise de cenário
Para o cientista político Leonardo Barreto, da consultoria Think Policy, o governo Lula prioriza reduzir tensões e preservar negociações econômicas com Trump. Segundo ele, a sugestão de acionar a Advocacia-Geral da União nos EUA para reverter as sanções contra Moraes indica o limite do apoio do Executivo ao ministro. Barreto avalia que a prisão de Bolsonaro, véspera da entrada em vigor das sobretaxas norte-americanas, “enterrou” a chance de adiar o tarifaço e pode levar o presidente Lula a se afastar de Moraes.
Enquanto o desgaste se aprofunda, a oposição aposta que o custo político de manter Moraes no cargo se torne insustentável. A estratégia, afirmam, é combinar pressão popular, resistência parlamentar e eventual ampliação das penalidades dos Estados Unidos para forçar o Congresso a agir.
Com informações de Gazeta do Povo