Com a taxa básica de juros estacionada em 15% ao ano, companhias de diversos setores têm procurado os consórcios como alternativa para liquidar empréstimos mais caros e diminuir o valor das prestações.
Demanda crescente
A Maestria, empresa especializada em consórcio, registrou em julho a venda de R$ 150 milhões em cartas de crédito a parceiros. Desse total, R$ 55 milhões (36%) foram destinados especificamente à troca de dívidas, informou o CEO e sócio-fundador Cléber Gomes.
Dado da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (ABAC) mostra que aproximadamente 18% dos participantes do sistema são pessoas jurídicas. O avanço é puxado por transporte, construção civil, agronegócio e serviços, onde o crédito contemplado substitui obrigações com juros elevados.
Financiamento x consórcio
No financiamento tradicional, o recurso é liberado imediatamente após a assinatura do contrato, mediante cobrança de juros. No consórcio, a liberação depende de sorteio, lance ou encerramento do grupo; o custo inclui apenas taxa de administração e atualização monetária.
Gomes compara um empréstimo de R$ 1 milhão, garantido por imóvel, com parcela mensal de cerca de R$ 22 mil, a um consórcio de mesmo valor que, uma vez contemplado, geraria prestação em torno de R$ 6 mil.
Simulação da Maestria para um crédito de R$ 1 milhão evidencia o contraste:
- Financiamento: prazo de 120 meses, parcela média de R$ 22.048,10 e custo total de R$ 2,64 milhões.
- Consórcio: prazo de 200 meses, parcela média de R$ 6.250,00 e custo de R$ 1,25 milhão.
- Consórcio reajustado pelo INCC: mesma duração, parcela média de R$ 8.652,44 e desembolso final de R$ 1,73 milhão.
Apesar da economia projetada, a companhia precisará, durante a fase de transição, arcar simultaneamente com a parcela do financiamento e a do consórcio.
Pontos de atenção
Segundo o planejador financeiro Jeff Patzlaff, CFP, o consórcio atrai empresários por cobrar taxa de administração média de 0,2% ao mês, ante juros que superam 1,5% em muitos financiamentos. Contudo, a estratégia só compensa se a contemplação ocorrer no momento adequado, se o índice de correção não se elevar demais e se a empresa tiver fôlego para suportar a sobreposição de pagamentos.
Patzlaff lembra que, ao recorrer a lances altos — prática comum para antecipar a contemplação — o custo da correção pode dobrar, principalmente em grupos atrelados a índices como o INCC. Além disso, o intervalo até receber a carta de crédito varia de alguns meses a anos, dependendo do grupo e da administradora.
“Não basta comparar o valor da prestação: é preciso medir o impacto do lance, o fluxo de caixa durante a espera e a incerteza do prazo”, ressalta.
Especialistas recomendam planejamento financeiro detalhado antes de aderir ao consórcio, além de assessoria para avaliar riscos e adequação ao perfil da empresa.
Com informações de InfoMoney