Reykjavik, 02 ago. 2025 – Único membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) sem Exército, a Islândia estuda elevar seus gastos em defesa e até formar uma tropa própria diante de novos desafios de segurança.
Estrutura atual enxuta
Desde a fundação da Otan, em 1949, o país nórdico de cerca de 400 mil habitantes confia a proteção territorial à Guarda Costeira e ao apoio dos Estados Unidos. O efetivo dispõe de apenas três helicópteros, dois navios de patrulha e um avião, número considerado insuficiente pelos próprios militares. “Três helicópteros, dois navios e um avião não são suficientes”, disse recentemente um oficial ao jornal britânico The Economist.
Hoje a Islândia destina 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) à defesa. A proposta em discussão prevê elevação gradual até 1,5% do PIB, permitindo reforço da infraestrutura para receber navios, submarinos e aviões aliados em eventual conflito no Atlântico.
Pressão de aliados
A ofensiva russa na Ucrânia e reiterados pedidos do presidente norte-americano, Donald Trump, para que parceiros ampliem o orçamento militar intensificaram o debate em Reykjavik. “Eles estão nos pressionando”, confirmou a ministra das Relações Exteriores, Thorgedur Katrin Gunnarsdottir.
Os Estados Unidos utilizam o território islandês para monitorar movimentações de submarinos russos no Atlântico Norte. Em troca, o país faz da presença americana seu principal escudo. A possibilidade de ampliar investimentos, no entanto, desperta receio de retaliações russas, sobretudo contra os cabos submarinos que conectam a ilha ao resto do mundo.
Cresce temor de sabotagem
Sem serviço de inteligência próprio, a Guarda Costeira também vigia a integridade desses cabos. Ataques recentes a infraestruturas semelhantes na Europa aumentaram o alerta. Relatório do Center for Strategic and International Studies (CSIS) indica que incidentes atribuídos a Moscou passaram de 12, em 2023, para 34, em 2024, incluindo explosões, incêndios e cortes de cabos responsáveis por 95% do tráfego global de dados.
Proposta de formação de Exército
Arnor Sigurjonsson, ex-chefe de defesa, defende a criação de uma força de mil soldados para proteger portos e aeroportos em emergências. “É infantil terceirizar a defesa do país”, argumenta. A ideia, antes vista com ceticismo, ganha apoio conforme aumentam as preocupações com a infraestrutura.

Imagem: Sigurdur J.Olafsson via gazetadopovo.com.br
Gunnarsdottir não se posiciona sobre um Exército, mas cita pequenos contingentes de Luxemburgo e Malta como modelos possíveis. “A questão principal é: como defendemos a Islândia?”, resume.
Fatores internos e agenda europeia
Além das questões militares, o arquipélago de 103 mil km² enfrenta instabilidade geológica causada pelo afastamento das placas tectônicas norte-americana e euro-asiática. Cidades como Grindavik vivem sob risco de erupções, exigindo recursos externos para resposta a desastres.
O cenário geopolítico e natural reaqueceu discussões sobre adesão à União Europeia. Um referendo está planejado, e pesquisas indicam aprovação. Segundo o parlamentar pró-Europa Pawel Bartoszek, quem mais influencia a opinião pública islandesa hoje são “Vladimir Putin e, em muitos aspectos, Donald Trump”.
Com informações de Gazeta do Povo