Uma ordem executiva assinada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 30 de julho de 2025, impõe sobretaxa adicional de 40% a parte das importações brasileiras a partir de 6 de agosto e ameaça ampliar as taxas caso o Brasil responda com medidas equivalentes.
No texto, Trump afirma que “qualquer retaliação brasileira será respondida” e detalha o mecanismo de escalada: se Brasília elevar tarifas sobre produtos norte-americanos, Washington aumentará proporcionalmente os tributos sobre as exportações do Brasil.
Mais da metade das vendas externas afetada
Levantamento da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), com base em dados da Comissão de Comércio Internacional dos EUA (USITC), indica que 56,6% das exportações brasileiras ficarão sujeitas ao novo imposto, o equivalente a US$ 23,9 bilhões considerando os valores de 2024.
Terceira ação protecionista em sete meses
Desde o início do mandato, esta é a terceira medida de Trump contra o Brasil: em fevereiro, o governo norte-americano estabeleceu tarifa de 25% sobre alumínio e aço; em abril, fixou acréscimo de 10% sobre todos os bens importados do país.
A Casa Branca justifica a decisão alegando que o Brasil adotou ações “sem precedentes” que ameaçariam a segurança nacional e a economia dos EUA, citando interferências na economia, violações de direitos humanos e perseguição política ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Governo Lula estuda reação
Ao comentar o anúncio inicial do tarifaço, em 9 de julho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou: “Se ele cobrar 50 de nós, vamos cobrar 50 deles”. A execução de retaliações, porém, depende da Lei de Reciprocidade Econômica, que exige negociações prévias, consulta aos setores afetados e eventual painel na Organização Mundial do Comércio (OMC). Regras do Mercosul também limitam a autonomia brasileira.
Mercado vê risco de escalada
Pesquisa da Amcham Brasil realizada entre 24 e 30 de janeiro mostra que 86% das empresas acreditam que medidas de reciprocidade agravariam as tensões e reduziriam espaço para diálogo. Para William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, “buscar a reciprocidade ou também tarifar os EUA não foi uma estratégia inteligente para quem tentou isso”.

Imagem: Yuri Gripas via gazetadopovo.com.br
Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital, avalia que uma retaliação “mal planejada” pode encarecer insumos, pressionar a inflação e comprometer cadeias produtivas ligadas ao exterior.
Estimativas de impacto econômico
O Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica (Nemea) da Universidade Federal de Minas Gerais projeta que uma tarifa uniforme de 50% sobre todos os produtos brasileiros reduziria o PIB em 0,16 ponto percentual (R$ 19,2 bilhões) e eliminaria cerca de 72 mil empregos, sobretudo nos setores agropecuário e de comércio. Estados exportadores, como São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais, seriam os mais afetados.
Já a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) calcula que uma retaliação semelhante do Brasil provocaria recuo de 2,3% no PIB (R$ 259 bilhões), corte de 1,9 milhão de postos de trabalho, perda de R$ 36,2 bilhões em rendimentos e queda de R$ 7,2 bilhões na arrecadação. Num cenário de escalada contínua, as perdas poderiam chegar a 6% do PIB (R$ 667 bilhões) e 5 milhões de empregos em até dez anos.
Até o momento, o governo brasileiro estuda opções diplomáticas e técnicas antes de definir se responderá às tarifas norte-americanas ou buscará uma saída negociada.
Com informações de Gazeta do Povo