Brasília — Mensagens de WhatsApp enviadas pelo perito digital Eduardo Tagliaferro, ex-chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED) do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), revelam receio do ex-assessor em relatar suas experiências ao lado do ministro Alexandre de Moraes e apontam que ele prepara novos documentos sobre as eleições de 2022.
Temor e promessas de revelações
Em 31 de março de 2024, Tagliaferro escreveu à esposa: “Se eu falar algo, o Ministro me mata ou me prende”. Na mesma data, acrescentou o desejo de expor fatos que teria testemunhado em Brasília: “Mas antes de eu morrer, tenho que contar tudo de Brasília”. Segundo ele, os arquivos estariam sob sua guarda e só seriam divulgados quando sua família estivesse em segurança.
Entrevista após sanções dos EUA
Na quarta-feira, 30 de julho de 2025, durante transmissão da Revista Timeline com os jornalistas Allan dos Santos, Ernesto Lacombe e Max Cardoso, o perito comemorou a aplicação da Lei Magnitsky pelo governo norte-americano contra Moraes e afirmou que novas provas, ligadas às eleições de 2022, estão armazenadas no Brasil e no exterior.
Conversas sobre deixar o país
Mensagens inéditas, tornadas públicas em março e abril de 2025, mostram Tagliaferro tratando de uma possível saída do país. Em videochamada com o jornalista Oswaldo Eustáquio, refugiado na Espanha, ele manifestou preocupação com o sustento da família. Em outro diálogo, disse à esposa que o ex-secretário de Comunicação do governo Jair Bolsonaro, Fabio Wajngarten, poderia ajudá-lo a viajar aos Estados Unidos; Wajngarten negou qualquer contato.
Celular apreendido e investigação da PF
Tagliaferro foi preso em 8 de maio de 2023 após um disparo acidental de arma de fogo durante discussão com a ex-mulher. No dia seguinte, Moraes o exonerou do TSE. O celular do perito ficou retido pela Polícia Civil de São Paulo até 15 de maio. Posteriormente, a Polícia Federal quebrou o sigilo telemático do aparelho e coletou as mensagens.
A PF abriu inquérito para apurar o vazamento de conversas internas do TSE com o Supremo Tribunal Federal (STF). Em abril de 2025, indiciou o ex-assessor por violação de sigilo funcional. A defesa sustenta que o vazamento pode ter partido da Polícia Civil ou da Secretaria de Segurança Pública paulista, hipótese levantada também em diálogos do próprio perito.
Relação entre TSE e STF
As trocas de mensagens indicam que, enquanto presidia o TSE, Moraes teria utilizado a estrutura da Corte Eleitoral para produzir relatórios empregados em inquéritos sob sua relatoria no STF. De acordo com o conteúdo, Tagliaferro dialogava com o juiz auxiliar Airton Vieira (STF) e o servidor Marco Antônio Vargas (TSE) para elaborar documentos que resultaram na remoção de publicações e suspensão de perfis, majoritariamente de comentaristas de direita e apoiadores de Bolsonaro.

Imagem: Alejandro Zambrana via gazetadopovo.com.br
Futuro nos Estados Unidos
Atualmente em local não revelado, Tagliaferro afirma que pretende estabelecer-se nos Estados Unidos, onde divulgará os dados que diz possuir. Ele relata tentativas de invasão digital e pressões para apagar registros: “Eles já sabem o que tem no meu WhatsApp. E sabem o que pode acontecer”, declarou na entrevista de 30 de julho.
Perfil do ex-assessor
Formado na iniciativa privada, o perito foi nomeado chefe da AEED por Moraes em agosto de 2022, encarregado do monitoramento de redes e da checagem de conteúdos durante a campanha eleitoral. A assessoria foi criada em fevereiro daquele ano, na gestão de Edson Fachin, para combater notícias falsas sobre o processo de votação eletrônica.
Tagliaferro sustenta que só tornará públicas as supostas provas após garantir proteção à família, reiterando que sua “revelação mais grave” ainda não veio a público.
Com informações de Gazeta do Povo