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Tarifaço dos EUA deve conter inflação, mas mercado descarta corte da Selic em 2025

Economistas ouvidos pelo mercado financeiro avaliam que a alta de 50% nas tarifas de importação aplicada pelos Estados Unidos a produtos brasileiros tende a esfriar os preços no Brasil ao longo do segundo semestre. Ainda assim, a medida não seria suficiente para abrir espaço a um alívio imediato na política monetária. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve anunciar nesta quarta-feira (30) a manutenção da Selic em 15% ao ano, patamar mais elevado em quase duas décadas e inalterado desde o fim do ciclo de altas iniciado em setembro de 2024.

Projeções para os juros

Para Caio Megale, economista-chefe da XP, os cortes na taxa básica só começariam em janeiro do próximo ano. “Acreditamos que o Copom será conservador neste semestre para garantir que a inflação siga em queda”, afirma. A corretora projeta IPCA de 5,0% em 2025, abaixo da estimativa anterior, que superava 6,0%.

Rodrigo Miotto, da Nippur Finanças, considera que qualquer decisão diferente da manutenção da Selic provocaria surpresa e volatilidade. “Não há espaço para cortes no curto prazo, mesmo com tendência deflacionária aparecendo nos indicadores”, diz.

Relatório do J.P. Morgan prevê que o Banco Central reforçará a postura de “vigilância e perseverança” até que o processo de desinflação esteja claramente consolidado. O Itaú Unibanco, por sua vez, mantém a expectativa de início dos cortes apenas no primeiro trimestre de 2026.

Impactos do tarifaço

Analistas consideram o tarifaço desinflacionário porque tende a reduzir o crescimento da economia brasileira, ampliando a oferta interna de produtos antes destinados à exportação. Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, avalia que o Copom não deve incorporar de imediato os efeitos da sobretaxa norte-americana, pois as negociações ainda não estão concluídas. “O impacto sobre o crescimento é moderado e não vemos movimento relevante sobre preços neste momento”, diz.

Padovani admite, porém, que a medida pode contribuir para uma desaceleração da atividade, o que abriria espaço para corte de juros apenas no início do segundo trimestre do ano que vem.

Inflação segue acima da meta

O IPCA acumulou alta de 5,35% nos 12 meses encerrados em junho, permanecendo pelo sexto mês consecutivo acima do limite superior da meta do Banco Central (3% com margem de 1,5 ponto percentual). A inflação de serviços ultrapassa 6%. O presidente do BC, Gabriel Galípolo, projeta que o índice voltará a ficar abaixo do teto apenas no fim do primeiro trimestre de 2026; o Copom agora mira a inflação do primeiro trimestre de 2027.

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Imagem: Jose Cruz via gazetadopovo.com.br

Risco fiscal continua no radar

Mesmo com eventual alívio nos preços, especialistas alertam para pressões fiscais e cambiais decorrentes da perda de receitas externas. “Os Estados Unidos compram cerca de 12% das nossas exportações, o que pesa sobre a balança comercial e a arrecadação”, afirma Miotto. Segundo ele, uma negociação com Washington poderia levar o dólar para perto de R$ 5,40; sem acordo, a cotação tende a subir.

Padovani ressalta que o tarifaço “atrapalha a política fiscal” ao desacelerar a economia e reduzir tributos arrecadados, agravando o desequilíbrio das contas públicas. O avanço das despesas federais no segundo semestre – com precatórios, emendas parlamentares e benefícios do INSS – também é apontado por Caio Megale como risco para a trajetória de queda dos preços.

Solange Srour, economista do UBS, acrescenta que medidas de estímulo ao crédito e transferências de renda, comuns em anos pré-eleitorais, podem adiar a volta da Selic a um dígito.

Com expectativas de inflação ainda afastadas da meta, dúvidas sobre a arrecadação e incertezas externas, o consenso no mercado é de que a taxa básica permanecerá em 15% ao ano por um período prolongado.

Com informações de Gazeta do Povo

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