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Empresas reduzem quadro e concedem férias coletivas antes da tarifa de 50% dos EUA

A poucos dias da entrada em vigor da tarifa extra de 50% anunciada pelos Estados Unidos sobre todos os produtos brasileiros — prevista para começar na próxima sexta-feira, 1.º de agosto — indústrias do país já suspendem operações, demitem trabalhadores e impõem férias coletivas.

Madeireiras do Sul interrompem produção

Responsável por cerca de 90% da capacidade instalada do setor madeireiro nacional, a Região Sul concentra as primeiras medidas de contenção.

A Sudati, produtora de compensados de madeira, iniciou o desligamento de 100 empregados em suas fábricas de Ventania e Telêmaco Borba (PR). As demissões serão escalonadas durante 60 dias; outras unidades da empresa, em Palmas e Ibaiti (PR) e Otacílio Costa (SC), não foram afetadas por enquanto.

Na BrasPine, 1,5 mil funcionários — mais da metade do quadro — foram colocados em férias coletivas. A parada começou em 15 de julho, quando 700 trabalhadores da planta de Jaguariaíva (PR) foram dispensados por 30 dias. Na semana seguinte, o grupo foi ampliado para 800 pessoas, somando 50 da mesma unidade e 750 da fábrica de Telêmaco Borba. Os empregados foram divididos em dois blocos: o primeiro interrompeu as atividades na segunda-feira (28) e o segundo inicia o recesso na próxima segunda (4).

Também no Paraná, a Millpar concedeu férias coletivas a 720 empregados das unidades de Guarapuava e Quedas do Iguaçu. A empresa admite ampliar a medida caso não haja avanço nas negociações entre Brasília e Washington.

Em Santa Catarina, o grupo Ipumirim adiantou férias para 550 colaboradores, enquanto a Móveis Weihermann, que destina 70% da produção aos EUA, suspendeu integralmente a operação nesta semana.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), o setor emprega 180 mil pessoas diretamente e exportou US$ 1,6 bilhão para o mercado norte-americano em 2024 — metade da produção brasileira. Contratos foram cancelados e embarques, suspensos. Há cerca de 1.400 contêineres já em trânsito marítimo rumo aos EUA e outros 1.100 aguardam embarque em terminais portuários.

Siderúrgicas mineiras param fornos

Em Minas Gerais, principal polo nacional de ferro-gusa, a expectativa de aumento de custos derrubou pedidos de clientes norte-americanos, destino de 68% da produção estadual. A Fergubel, em Matozinhos, interrompeu as atividades por 30 dias e colocou seus 150 empregados em férias coletivas.

Outras duas produtoras, Modulax e CSS Siderúrgica Setelagoana, adotaram paralisações por tempo indeterminado para evitar demissões. Em 2024, 87% das exportações brasileiras de ferro-gusa — 3,3 milhões de toneladas — foram para os EUA, 85% delas originadas em Minas.

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Imagem: criada utilizando Dall-E via gazetadopovo.com.br

Estudo aponta até 110 mil demissões

Levantamento do Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental Aplicada (Nemea), da UFMG, projeta perda de até 110 mil postos de trabalho caso a sobretaxa seja mantida: 40 mil na agropecuária, 31 mil no comércio e 26 mil na indústria. O Produto Interno Bruto poderia recuar 0,16% (R$ 19,2 bilhões). Os estados mais afetados seriam São Paulo (-R$ 4,4 bilhões), Rio Grande do Sul (-R$ 1,9 bilhão), Paraná (-R$ 1,9 bilhão), Santa Catarina (-R$ 1,74 bilhão) e Minas Gerais (-R$ 1,66 bilhão).

Entre as empresas que avaliam medidas drásticas está a Taurus, maior fabricante de armas de fogo do país. A companhia admite transferir toda a operação para os EUA, o que colocaria em risco até 15 mil empregos no Rio Grande do Sul, 3 mil deles diretos, em São Leopoldo.

Estados anunciam linhas de crédito

Sem acordo entre os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, administrações estaduais lançaram programas de socorro a exportadores:

  • Goiás: linha emergencial com juros anuais abaixo de 10%.
  • São Paulo: até R$ 20 milhões por empresa, taxa de 0,27% ao mês mais inflação, prazo de 60 meses e 12 de carência; liberação de R$ 1 bilhão em créditos de ICMS e ampliação do Fundo Garantidor do Estado.
  • Paraná: liberação de créditos de ICMS e mais de R$ 400 milhões em financiamentos pela Fomento Paraná e BRDE, além de adiamento de parcelas de contratos existentes.
  • Rio Grande do Sul: R$ 100 milhões em crédito via BRDE, juros entre 8% e 9% ao ano, prazo de 60 meses e 12 de carência.

Governo federal prepara pacote de emprego

O Ministério da Fazenda analisa medidas de facilitação de crédito e um programa de manutenção de renda nos moldes do Benefício Emergencial (BEm), criado na pandemia, para tentar evitar demissões em massa.

Com a tarifa de 50% confirmada para 1.º de agosto, empresas brasileiras aguardam o desfecho das negociações enquanto ajustam operações para enfrentar o novo cenário.

Com informações de Gazeta do Povo

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